Tão importante, tão esquecido: o bairro da Misericórdia
Abertura: 8 de outubro de 2015
Encerramento: 17 de janeiro de 2016
Em cartaz de 8 de outubro a 17 de janeiro de 2016, a exposição "Tão importante, tão esquecido: o bairro da Misericórdia”, com curadoria da historiadora Izabel Lenzi e acervo do próprio Museu Histórico Nacional, aborda a plenitude e a decadência do bairro da Misericórdia, localizado no centro histórico do Rio de Janeiro (ao redor do Morro do Castelo, hoje já demolido), pontuando as transformações pelas quais a região passou ao longo dos 450 anos da cidade.
A exposição abrange desde a formação da área conhecida como Ponta da Piaçava, e posteriormente consagrada como Ponta do Calabouço - primeira área de acesso ao Morro do Castelo - até as transformações ocorridas na região a partir da derrubada do Viaduto da Perimetral.
Palco e cenário dos primórdios da cidade, o bairro da Misericórdia tem o Museu Histórico Nacional como um de seus principais remanescentes. O conjunto arquitetônico que o abriga é constituído pelos vestígios do Forte de São Tiago, a Casa do Trem e o Arsenal de Guerra que, desde as últimas décadas do século XVI, testemunham a sua trajetória.
A exposição está dividida basicamente em quatro módulos – a cidade no Morro do Castelo (século XVI e XVII); a sua expansão (século XVIII); a cidade imperial e sua relevância para a construção da Nação (século XIX) e as transformações ocorridas na região a partir das comemorações do Centenário da Independência e do IV Centenário do Rio de Janeiro (século XX).
Seleção de esculturas de São Sebastião na Reserva Técnica. Foto: Evelyn de Assis
Igreja de São Sebastião dos Capuchinhos no Morro do Castelo. A. Correia da Costa. Aquarela, 1921, 33 x 53 cm.
A cidade no Morro do Castelo
Foi no alto do Morro do Castelo, origem do bairro da Misericórdia, que se ergueram as primeiras instituições da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, logo que Mem de Sá a transferiu do sopé do Pão de Açúcar para o alto do Castelo, em 1567.
Ele escolheu “[...] um sítio que parecia mais convincente para edificar nele a cidade de São Sebastião o qual sítio era de um grande mato espesso, cheio de muitas árvores grossas em que se levou assaz de trabalho em as cortar e a limpar o dito sítio e edificar uma cidade grande, cercada de muro por cima, com muitos baluartes e fortes cheios de artilharia. E fiz a igreja dos padres de Jesus, onde agora residem, telhada e bem concertada, e a Sé de três naves, também telhada e bem concertada, fiz a casa da câmara sobradada, telhada e grande, a cadeia, as casas dos armazéns e para a fazenda de sua alteza sobradadas e telhadas com varandas, dei ordem e favor com que fizessem outras muitas casas, telhadas e sobradadas [...]
No final do século XVI, a várzea ao pé do morro já estava habitada com diversas casas, a capela de Nossa Senhora de Bonsucesso e o hospital da Santa Casa da Misericórdia, que deu nome ao bairro que se formava. A Rua da Misericórdia foi a primeira rua na várzea da cidade. A presença dos jesuítas é ressaltada na fundação da cidade.
Destaque ainda para episódios importantes ocorridos no século XVII, quando o bairro da Misericórdia já concentrava a maior parte da população e das instituições da cidade, tais como a revolta da cachaça. O problema do abastecimento de água para a cidade já remonta a essa época, sendo também ressaltado nesse primeiro módulo da exposição.
A Expansão
Seleção de esculturas de santos na Reserva Técnica. Foto: Evelyn de Assis
Lagoa do Boqueirão e Aqueduto da Carioca. Leandro Joaquim. Rio de Janeiro, segunda metade do século XVIII, 1 110 x 1390 mm.
A partir das invasões francesas comandadas por Duclerc e Duquay-Trouin, Portugal projetou novas defesas para a cidade do Rio de Janeiro. No século XVIII, a cidade foi se expandindo entre os morros do Castelo, São Bento, Conceição e Santo Antônio. A sede da colônia foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro e a cidade ganhou novos equipamentos urbanos, como o Passeio Público e o aqueduto da Carioca. No final do século XVIII, as instituições administrativas e políticas já estão mais afastadas do antigo bairro e concentradas no largo do Paço. É o início da decadência da Misericórdia.
Revista militar no Largo do Paço. Leandro Joaquim. Rio de Janeiro, segunda metade do século XVIII, 1 110 x 1390 mm
A cidade imperial
Morro do Castelo e Ladeira da Misericórdia. Foto. Rio de Janeiro, 192- , 13 x 18cm.
Forte do Morro do Castelo. Gustavo Dall´Ara, Rio de Janeiro, 1922, 110.00 x 94 cm
Arrasamento do Morro do Castelo. Foto. Rio de Janeiro, 192-, 14 x 18 cm
Arrasamento do Morro do Castelo. Foto. Rio de Janeiro, 192-, 14 x 18 cm. Ao fundo o Pão de Açúcar.
A política no século XIX é o tema central do terceiro módulo da exposição, que aponta a importância do Rio de Janeiro e do Império para a construção do Brasil que conhecemos hoje. Ao mesmo tempo em que a cidade ganhava importância no país, o bairro da Misericórdia e o Castelo entraram cada vez mais em decadência. As instituições de poder se afastam ainda mais do local de fundação da cidade.
As transformações do século XX
No último módulo da exposição são abordadas as comemorações do Centenário da Independência do Brasil, em 1922, e do IV Centenário do Rio de Janeiro, em 1965.
Na década de 1920, o bairro da Misericórdia foi totalmente transfigurado para abrigar a Exposição Internacional do Centenário da Independência. O Morro do Castelo foi demolido e parte do litoral do Bairro da Misericórdia, inclusive as praias de Piaçaba e Santa Luzia, foi aterrado com o desmonte do Castelo. O antigo Arsenal de Guerra é totalmente reformado para abrigar o Pavilhão das Grandes Indústrias e o então recém-criado Museu Histórico Nacional.
Ponta do Calabouço. Foto: Augusto Malta. Rio de Janeiro, 1922
Na exposição, o visitante poder ver vestígios do desmonte do Morro do Castelo, sobretudo da Igreja dos Jesuítas, além do rádio, que transmitiu pela primeira vez no país as ondas radiofônicas, levando a voz do presidente Epitácio Pessoa inaugurando a Exposição do Centenário a milhares de brasileiros.
Avenida Perimetral. Foto: Eduardo de Los Rios. Rio de Janeiro, 1961
Para comemorar o VI Centenário do Rio de Janeiro em 1965, a região da Misericórdia sofre alterações, entre as quais a construção do Viaduto da Perimetral, que marca significativamente a paisagem do local. O Mercado Municipal é demolido, restando apenas um de seus torreões, onde hoje se localiza o restaurante Albamar. É inaugurado num dos antigos pavilhões da Exposição do Centenário o Museu da Imagem e do Som, para guardar a memória de uma parte da cidade que já não mais existe. O bairro da Misericórdia vai ficando cada vez mais periférico. E, apesar de ainda abrigar o largo mais antigo da cidade – o Largo da Misericórdia – já não convida o carioca a passear no local.
Para as comemorações dos 450 anos da cidade em 2015, a paisagem do que foi o bairro da Misericórdia é alterada pelas obras do Porto Maravilha, que incluiu a demolição do viaduto da Perimetral. Serão os marcos históricos valorizados, esquecidos, destruídos e/ou fragmentados em nome da modernidade?
Avenida Perimetral. Foto: João Carlos Ribeiro Campos. Rio de Janeiro, 2015
Avenida Perimetral. Foto: Evelyn de Assis
Local:
Museu Histórico Nacional (MHN)
Praça Marechal Âncora, s/n
Centro
(21) 2550-9221
Funcionamento:
Quarta a sexta - das 10h às 17h
Sábado e domingo - das 13h às 17h.
Ingresso:
O MHN está temporariamente com entrada gratuita. Não é preciso a retirada antecipada de ingresso.
Atenção: os horários e a programação podem ser alterados pelo local sem aviso prévio. Por isso, é recomendável confirmar as informações por telefone antes de sair.
Museu Histórico Nacional (MHN)
Praça Marechal Âncora, s/n
Centro
(21) 2550-9221
Funcionamento:
Quarta a sexta - das 10h às 17h
Sábado e domingo - das 13h às 17h.
Ingresso:
O MHN está temporariamente com entrada gratuita. Não é preciso a retirada antecipada de ingresso.
Atenção: os horários e a programação podem ser alterados pelo local sem aviso prévio. Por isso, é recomendável confirmar as informações por telefone antes de sair.