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Em vigor, nova ortografia ainda causa dúvidas.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
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Imprecisão no texto do acordo faz com que especialistas aguardem ABL para decidir sobre utilização do hífen

Entrou oficialmente em vigor ontem o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Ratificado em setembro do ano passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele institui diversas mudanças na ortografia do português, entre elas a extinção do trema, a incorporação das letras “k”, “w” e “y” ao alfabeto e novas regras de acentuação e uso do hífen — estas últimas, motivo de dúvidas mesmo entre os especialistas.

Na próxima segunda-feira, dia 5, a nova ortografia passa a ser utilizada nos sites e nos jornais produzidos pela Infoglobo.

O prazo oficial dado pelo governo para que os brasileiros se adaptem às mudanças é 31 de dezembro de 2012. Em Portugal, o prazo oficial se estende até 2014.

Alguns dicionários já estão atualizados Algumas editoras já mandaram para as livrarias dicionários atualizados, entre eles o “Houaiss” (Objetiva), o “Aurélio” (Positivo) e o “Dicionário Escolar da Língua Portuguesa” (Companhia Editora Nacional), este feito pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Todos eles, porém, em versão míni, com cerca de 30 mil verbetes, os mais usados em sala de aula. O único dicionário completo que diz estar totalmente atualizado, no momento, é o Caldas Aulete, oferecido de graça em versão digital na internet, no site www.auletedigital.com.br.

Como o acordo não fornece uma lista de palavras a serem alteradas, mas novas regras que devem ser aplicadas no vocabulário existente, as editoras precisaram reforçar o quadro de lexicógrafos e revisores para fazerem as mudanças.

Ainda assim, casos controversos permanecem, em especial em relação ao hífen.

O acordo é criticado por deixar margem à interpretação na decisão sobre que palavras devem ganhar ou perder hífen. O texto diz que devem perder o hífen, por exemplo, os termos compostos “em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição”. Como exemplos de palavras a serem mudadas, são dados apenas pára-quedas e pára-quedista, que passam a ser grafadas como paraquedas e paraquedista. Como não há jeito objetivo de se dizer em que palavras a “noção de composição” se perdeu ou não, o texto ficou impreciso

Governo adia compras para rede pública Por isso, as editoras aguardam a publicação do “Vocabulário ortográfico da língua portuguesa”, da ABL, elaborado por uma equipe chefiada por Evanildo Bechara, para adotarem soluções de consenso onde ainda existem dúvidas. Até o governo adiou a compra de dicionários para a rede pública de ensino à espera do Vocabulário Ortográfico.

O objetivo do acordo é simplificar as regras de escrita e acabar com as diferenças entre a ortografia do Brasil e a dos demais países que têm o português como língua oficial.

As diferenças remontam a 1911, quando o governo português fez, à revelia do Brasil, a primeira normatização oficial da língua portuguesa. Desde então, os dois países tentam reaproximar suas grafias, reduzindo progressivamente as diferenças entre elas. O acordo acaba com 98% das divergências ainda existentes.


Conheça algumas mudanças:

K, W, Y: O acordo incorpora definitivamente ao alfabeto usado na língua portuguesa as letras K, W e Y.

HIATO “OO”: Não leva circunflexo o primeiro “o” do hiato “oo”. Exemplo: “enjoo”.

ACENTO DIFERENCIAL: Não será mais usado para distinguir palavras homógrafas.

Passam a ser grafadas da mesma maneira, por exemplo, para (verbo) e para (preposição).

Exceção: “pôde” e “pode”. Facultativo: fôrma (substantivo) e forma (substantivo, verbo).

CREEM: Não levam acento circunflexo as formas verbais creem, leem, deem, veem e seus derivados (descreem, releem, desdeem, reveem etc.).

PAROXÍTONAS: Não levam acento agudo as vogais tônicas “i” e “u” das palavras paroxítonas quando precedidas de ditongo.

Exemplos: “baiuca”, “feiura”, “baiuno”, “cauila”.

TREMA: O uso do trema é completamente eliminado pelo acordo.

CONSOANTES: São eliminadas as consoantes mudas ainda utilizadas no português falado fora do Brasil.

Exemplos: “ação (em vez de acção)” e “ótimo (óptimo)”.

DITONGOS: Não serão mais acentuadas as paroxítonas com ditongos abertos “ei” e “oi”, caso de “assembleia”, “ideia”, “heroico” ou “jiboia”.

É importante lembrar que o acento é mantido nas oxítonas, como “herói”. O texto deixou dúvidas, porém, nos casos em que o ditongo está em paroxítonas terminadas em “r”, como “destróier”. A Academia Brasileira de Letras diz que vai manter em seu vocabulário ortográfico a acentuação nesses casos.

HÍFEN: São várias as dúvidas criadas pelo acordo. Entre elas, a suscitada pela regra que determina que ele não seja mais utilizado nos termos compostos “em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição”, uma norma que dá margem a interpretações subjetivas. A Academia Brasileira de Letras avisou que vai adotar uma interpretação literal do texto do acordo e suprimir o hífen apenas nos dois casos mencionados pelo documento: “pára-quedas” e “pára-quedista”, que passam a ser grafadas “paraquedas” e “paraquedista”.

Fonte: O Globo [02.01.09]

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