Cenário do evento que ficou conhecido como “O Último Baile do Império”, realizado alguns dias antes da Proclamação da República, a Ilha Fiscal continua sendo um elo entre o presente e o passado.



Situada na baía de Guanabara, próximo à região central da cidade, é um monumento histórico que testemunhou eventos significativos ao longo dos anos, desde sua criação até os dias atuais. Ao explorar as diversas épocas da história brasileira, a Ilha Fiscal destaca-se como palco de importantes momentos, como a última festa realizada pelo Império brasileiro.

Como a Ilha Fiscal faz parte integrante do Espaço Cultural da marinha, o acesso a visitação se dá a bordo da Escuna Nogueira da Gama. Os visitantes seguem por mar até a Ilha Fiscal, onde D. Pedro II mandou construir uma incrível edificação.

Na visitação guiada, detalhes e curiosidades da época são mostrados ao vivo e, em um vídeo multimídia, uma atriz trajada com figurino de época conta todos os detalhes da festa ocorrida ali. São também mostrados objetos pessoais, obras de arte, uma réplica do convite do Baile escrito com pó de ouro e uma mesa posta, como se estivesse ali desde a noite da última grande festa do Império.



No interior do prédio de exposições, um dos destaques é uma réplica do quadro a óleo “O último baile da Ilha Fiscal”, pintado em 1907 por Aurélio de Figueiredo. A obra reproduz o contexto histórico: na parte superior, há figuras que simbolizam os republicanos chegando ao poder bem como uma imagem de como seria uma eventual coroação da Princesa Isabel, sucedendo o pai. Pedro II também é representado no quadro junto com outras personalidades da época, como o escritor Machado de Assis. Não consta que Aurélio tenha ido ao baile, mas, em uma espécie de “licença artística”, pintou a si mesmo, a mulher e as duas filhas em um dos cantos do quadro. O quadro original encontra-se exposto no Museu Histórico Nacional.

Atualmente, a maior preocupação é assegurar a integridade dos vitrais do prédio principal, boa parte deles originais, por causa da proximidade com as pistas de pouso e decolagem do Aeroporto Santos Dumont - a trepidação causada pela proximidade da passagem dos aviões.

Construção e evolução histórica



No século XIX, o Conselheiro José Antônio Saraiva do Ministério da Fazenda, solicitou construir-se um posto alfandegário para o controle das mercadorias a serem importadas e exportadas pelo porto do Rio de Janeiro.

A Ilha Fiscal foi projetada pelo engenheiro Adolpho Del Vecchio (Engenheiro-Diretor de Obras do Ministério da Fazenda), inspirado nas concepções do Arquiteto francês Viollet-le-Duc, e concluída em 27 de abril de 1889 para servir como posto aduaneiro. O edifício foi inaugurado com a presença do Imperador, acompanhado de Gastão de Orleans, Conde d'Eu e comitiva - o translado do cais Pharoux foi realizado utilizando-se a famosa galeota de D. João VI.

Sua localização estratégica na entrada da Baía de Guanabara tornou-a crucial para o controle do tráfego marítimo na época. Ao longo dos anos, a ilha desempenhou diferentes papéis, refletindo as mudanças na política e na sociedade brasileira.

Em 1890, prosseguiram as obras de pavimentação em paralelepípedos, e no extremo leste foi construído outro edifício no estilo do principal a fim de abrigar as máquinas elétricas e os serviços auxiliares.

A partir de 1914, a Marinha fez funcionar na ilha, sucessivamente, a Repartição de Faróis, Repartição Hidrográfica, Repartição Central de Meteorologia, Repartição da Carta Marítima, Superintendência de Navegação, Diretoria de Navegação e finalmente a Diretoria de Hidrografia e Navegação.

Em 1930, a Ilha Fiscal foi ligada à das Cobras por meio de um molhe de concreto transformando-as em duas ilhas geminadas. A última organização militar que permaneceu na Ilha Fiscal foi o Grupamento de Navios Hidroceanográficos, até março de 1998.

O edifício encontra-se tombado pela Prefeitura do Rio de Janeiro desde 1990, tendo passado por diversos trabalhos de restauração desde 2001, coordenados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), quando foram restauradas as pinturas do teto, das paredes e do mosaico do piso de parque do torreão.
Em 2006, a Marinha organizou um projeto com o propósito de montar uma iluminação de verão para a Ilha Fiscal, e graças à parceria com a BR Distribuidora, a Marinha presenteou a Cidade do Rio de Janeiro com a beleza da construção do engenheiro Del Vecchio em sofisticada iluminação.

Em 8 de julho de 2023, após um ano e meio de obras para a recuperação estrutural do prédio principal, com a reforma se concentrando nas vigas e nos pilares que sustentam o piso, a ilha foi reaberta a visitação pública. A reforma custou R$ 3,4 milhões. Os recursos foram captados pela Lei Rouanet e emendas parlamentares.





O Último baile do Império e a chegada da República



Um dos eventos mais emblemáticos na história da Ilha Fiscal foi o último baile do Império, realizado em 9 de novembro de 1889.

De acordo com historiadores, a festa realizada no Palácio da Ilha Fiscal foi o estopim para que os militares do Exército Brasileiro, fortalecidos a partir da Guerra do Paraguai (1864-1870), decretassem o fim da monarquia constitucional parlamentarista, no dia 15 de novembro de 1889.

O quadro "Último Baile do Império", de Antônio Parreiras, retrata esse momento histórico, com uma réplica em exibição na Ilha Fiscal e o original no Museu Histórico Nacional.



O Baile foi, na verdade, uma tentativa de reafirmar a importância do regime e o prestígio de Dom Pedro II, bastante abalado desde a abolição da escravatura no ano anterior. Para efeitos protocolares, tinha o objetivo de oferecer uma grande festa aos comandantes e oficiais da marinha chilena, representados pelo Encouraçado Almirante Cochrane, para retribuir a boa recepção oferecida à tripulação de um navio brasileiro em sua visita a Valparaíso, no Chile.

Toda a ilha foi enfeitada com bandeirinhas em verde e amarelo, pelo Brasil, e azul e vermelho, cores do Chile. Como grande novidade e demosntração de modernidade, lanternas venezianas à luz elétrica iluminavam o ambiente. Duas orquestras completas executavam a sequência de danças da moda descrita no convite: quadrilha, valsa, polca, lanceiros, mazurca e galope.

Curiosidade: no baile, um dos pratos oferecidos foi sorvete de sabores variados e o gelo foi trazido do Canadá de navio.

Espaço Cultural da Marinha e o complexo da Ilha Fiscal



Atualmente, a Ilha Fiscal integra o Espaço Cultural da Marinha, um complexo que preserva a história naval brasileira. O Espaço Cultural oferece uma imersão na cultura marítima, abrangendo exposições, museus e eventos.

Inaugurado em janeiro de 1996, o Espaço Cultural da Marinha (ECM) tem vários navios-museus em sua área externa. Um deles é o Contratorpedeiro Bauru, da década de 1940, que aborda a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial. O outro é o Submarino Riachuelo, com um histórico de 18 mil horas debaixo d’água. Há ainda a réplica de uma Nau e o Sea King (Rei do Mar), um helicóptero antissubmarino que serviu à Marinha até 1996.

Com apenas 1.500 metros quadrados, o local onde se encotra a Ilha Fiscal se resume, basicamente, ao castelo verde em estilo neogótico, com suas imponentes torres pontudas sobre um platô rodeado pelas águas da baía de Guanabara.

Arquitetura da Ilha Fiscal



A arquitetura da Ilha Fiscal é considerada Gótico-provençal, influência neogótica. O edifício principal, de três andares, exibe detalhes arquitetônicos refinados, incluindo torres, arcadas e vitrais. A grandiosidade da construção reflete a importância atribuída à ilha durante sua função original como posto aduaneiro.

Internamente, os acabamentos são de primeira: piso com mosaico em madeira, vitrais franceses, escadarias em pedra, tudo decorado com mobiliário fino e requintado.

Na fachada, o brasão da família Bragança é um sobrevivente: foi um dos poucos símbolos monárquicos em prédios públicos poupados pelos republicanos — graças a Del Vecchio, que, segundo a museóloga, convenceu Ruy Barbosa, figura próxima a Deodoro da Fonseca, a preservá-los por serem obras de arte.

Curiosidade: Nenhuma de suas 75 janelas têm o mesmo tamanho, piis tudo foi feito artesanalmente. Esta é uma das curiosidades contadas na visitação, sempre guiada, que passeia pelo interior do castelo, incluindo o salão cerimonial, a torre principal e um terraço. O guia também conta, entre outras coisas, que o prédio foi um dos mais modernos de sua época, com laje pré-fabricada, para-raios e iluminação a gás.

A Cor Verde e seu significado



As paredes externas da Ilha Fiscal são caracterizadas pela cor verde, escolhida não apenas por razões estéticas, mas também por sua simbologia. O verde era associado à cor da casa imperial brasileira (Casa de Bragança) e foi mantido como parte da preservação histórica do local. E o brasão da família, desenhado por Jean-Baptiste Debret, aparece em cantaria sobre a entrada principal. Até mesmo os vitrais coloridos a fogo e importados da Inglaterra destacam símbolos do império e as figuras da princesa regente Isabel e de sua majestade o imperador Dom Pedro II.

A Galeota Real



Um dos elementos mais fascinantes da Ilha Fiscal é a galeota real, exposta ao lado do castelo em galpão envidraçado, uma embarcação que servia para transportar membros da família imperial. É a embarcação mais antiga preservada no Brasil.

Construída em Salvador, em 1808, após a chegada da Família Real no Brasil. É a primeira e única embarcação a ter esse nome, em homenagem ao Príncipe Regente e, depois, Rei de Portugal Dom João VI.

Foi trazida para o Rio de Janeiro, em 1809, servindo para passeios da Família Real pela Baía de Guanabara. Esteve em uso até os primeiros governos republicanos. Foi utilizada pela última vez em setembro de 1920, para transportar a família real da Bélgica, que chegou ao Rio de Janeiro a bordo do Encouraçado São Paulo.



Possui as seguintes dimensões principais: 24 m de comprimento; 3,6 m de boca (maior largura); 1,25 m de pontal (altura da quilha à borda); e 0,9 m de calado. Sua propulsão pode ser a remo ou a vela. Tinha inicialmente 22 remos, cada um deles guarnecido por dois remadores (chamados, então, de “algarves”); depois, foram acrescentados mais oito remos. Os remadores ficavam expostos ao tempo, mas, para os passageiros, existe um formoso camarim.

Os entalhes da decoração da Galeota são preciosos. A figura de proa é uma serpente marinha estilizada, o verdugo (proteção lateral do casco) dourado reproduz em madeira um cabo (corda) de fibra torcida e o painel de popa, muito decorado, além das armas imperiais, tem também duas belas cornucópias douradas. O leme é um golfinho.

Rica em detalhes e ornamentos, a galeota real é um testemunho da opulência da época imperial brasileira. Sua história e funcionalidade são preservadas como parte do acervo da ilha.

Serviço

Como Chegar: A Ilha Fiscal é acessível por barco, saindo do Espaço Cultural da Marinha, próximo à Praça XV. O trajeto oferece uma vista espetacular da Baía de Guanabara.

Use roupas leves, tênis, Chapéu ou boné, água, câmera, protetor solar e muita disposição. Com apenas 1.500 metros quadrados, o local se resume, basicamente, ao castelo verde neogótico.

Os guias especializados que acompanham os grupos de visita, além de mostrarem os salões, o torreão e as exposições permanentes do espaço, explicam um pouco das contribuições da Marinha ao desenvolvimento do país. O passeio até à Ilha é realizado com a escuna Nogueira da Gama e dura cerca de 10 minutos, em caso de mau tempo o trajeto é feito de van.

Ilha Fiscal = visitas de quarta a Domingo: às 12h45, 14h e 15h30, com ingresso de R$ 50,00 por pessoa (até a data de postagem desta matéria).

Chegue cedo e e conheça o Espaço Cultural da Marinha. você ainda pode conhecer o Navio Bauru que participou da Segunda Guerra Mundial atracado no píer, assim como o Submarino Riachuelo.

A Marinha oferece o local para realização de eventos corporativos, ensaios de moda, festas e até casamentos.



Fontes:
- riotur
- marinha
- guiaculturalcentrodorio
- O GLOBO
- ipatrimonio
- wikipedia