O Chafariz do Mestre Valentim, também conhecido como Chafariz do Carmo, Chafariz Colonial, Chafariz da Pirâmide ou Chafariz da Praça XV, é uma obra arquitetônica que carrega consigo não apenas a beleza estética, mas também uma rica história que remonta ao século XVIII.
O chafariz está localizado na Praça XV - nomeada assim em homenagem a Proclamação da República de 15 de novembro de 1889. Mas a região teve vários nomes desde que o Rio de Janeiro foi fundado. Nos primórdios da ocupação era chamada de Praia da Piaçaba - lembrando que as águas da baía chegavam onde está o chafariz -, mas também foi batizado de Largo do Terreiro da Polé; Largo do Carmo; Praça do Carmo; Terreiro do Paço; e Largo do Paço.
Do século XVI até meados da década de 1770, quando da construção do Cais do Valongo, toda aquela região onde está o chafariz era o principal ponto de desembarque de escravizados africanos na cidade.
Construído pelo mestre entalhador e arquiteto Valentim da Fonseca e Silva, o chafariz desempenhou um papel crucial na realidade da época, conectando-se intimamente com o Terreiro do Paço, o centro político, financeiro e administrativo da então capital colonial.
Quem foi Mestre Valentim?
Valentim, nascido em Minas Gerais, destacou-se como um dos principais artistas do período colonial brasileiro.
Assim como o famoso mineiro Aleijadinho, era bastardo, filho de mãe escrava, mestiço e morreu na extrema miséria. Sua habilidade excepcional em esculpir e entalhar em pedra o elevou a uma posição de destaque, sendo responsável por diversas obras marcantes, incluindo esculturas e ornamentos em igrejas e edifícios públicos. Ficou muito famoso também por ser o responsável pela construção do Passeio Público do Rio de Janeiro - veja mais sobre o Passio Público no site oficial PasseioPublico.com.
O Chafariz
A construção do Chafariz do Mestre Valentim teve início no ano de 1786 e conclusão em 1789, durante o governo do vice-rei dom Luís de Vasconcelos.
O chafariz é basicamente uma pequena torre de quatro faces com uma pirâmide quadrangular assentada em seu teto e, em seu cume, encontra-se a Esfera Armilar, símbolo do Reino de Portugal. A junção das fachadas é arrematada com pilastras circulares, pilastras estas que são arrematadas com coruchéus, havendo uma espécie de balaustrada entre os coruchéus. Na fachada voltada para o mar, há uma porta e uma placa comemorativa relativa à inauguração do monumento. Nas demais faces, existem grandes conchoides sob as janelas centrais que recebiam a água de repuxos, coletada por tanques que ficavam no subsolo do chafariz. A face oposta à fachada voltada para o mar também possui um medalhão ovalado em mármore com alguns inscritos.
O Chafariz do Mestre Valentim era mais do que uma simples estrutura para abastecimento de água para a população e embarcações. Na época, pela sua localização privilegiada, servia como ponto de encontro social, onde as pessoas se reuniam para conversar, buscar água e, muitas vezes, presenciar eventos culturais e políticos que ocorriam no quadrilátero. Era um espaço vital para a vida cotidiana da cidade.
O Chafariz no decorrer da história
No contexto histórico, o chafariz desempenhava um papel crucial no abastecimento de água para a população local. Além disso, sua localização estratégica no antigo porto e sua conexão com o "quadrilátero do poder", o Terreiro do Paço, onde questões administrativas e políticas eram discutidas e decididas, sua presença reforçava a importância da água não apenas como uma necessidade básica, mas também como um elemento simbólico de poder e prosperidade.
Em 1857, em decorrência da construção do Cais Pharoux (atual local da estação das Barcas da Praça XV), construído em estilo neoclássico com materiais importados da França e Boêmia, ele era o ponto de partida para as viagens da Família Imperial brasileira para suas casas de veraneio, em Petrópolis, através de uma ligação ferromarítima. O antigo piso da Praça XV foi aterrado, elevando o nível da praça em um metro e, por consequência, três degraus do chafariz foram aterrados. O Chafariz do Mestre Valentim forneceu água até a década de 1880, quando foi desativado.
Na praça, até o fim do século XIX, atracavam a maior parte dos navios de passageiros que chegavam ao Rio de Janeiro, lembrando que nessa época ainda não havia aviões. E a região era considerada o cartão de visitas da cidade.
No ano de 1912, a Estação hidroviária da Praça XV, que hoje atende o sistema de barcas operado pela CCR Barcas, foi inaugurada após oito anos de construção.
Ao longo dos anos, o Chafariz do Mestre Valentim passou por diferentes fases de preservação e restauração. Em 1938, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), garantindo assim sua proteção legal. Diversas reformas foram realizadas na Praça XV, incluindo intervenções específicas no chafariz, visando preservar sua estrutura original.
Na década de 1950, foi construído a Elevado da Perimetral, que inicialmente ligava a Avenida Presidente Vargas ao Aterro do Flamengo. Em virtude da construção do viaduto, a beleza do chafariz ficou ofuscada.
No ano de 1988, a Prefeitura do Rio de Janeiro realizou uma pesquisa arqueológica, envolvendo escavações, em busca do cais que existia no local na época da inauguração do chafariz. Por consequência disto, o chafariz passou a ter um novo lago, restrito à área frontal, onde as águas da baía chegavam, de modo que fosse possível a visualização dos degraus de cantaria originais. O trecho restante da área escavada foi gramado e uma cerca foi colocada em volta do monumento a fim de garantir a segurança dos transeuntes.
No entanto, o tempo e os elementos naturais deixaram suas marcas, levando a constantes esforços de conservação. Apesar disso, o Chafariz do Mestre Valentim permanece como um testemunho da rica história e da habilidade artística do período colonial brasileiro.
A última obra de restauro da ambientação do chafariz se deu logo após a eleição da cidade do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016. Bem enfrente ao chafariz existia o Túnel Engenheiro Carlos Marques Pamplona (construído em no ano de 1996), popularmente conhecido como Mergulhão da Praça XV, foi um túnel subterrâneo criado para desafogar o trânsito na área da Praça XV e organizar as paradas de ônibus para embarque e desembarque para quem utilizava o terminal das barcas ou trabalhava na região do Centro. Havia uma escadaria que passava bem ao lado do chafariz, dando acesso ao terminal subterrâneo. Com a revitalização da Zona Portuária do Rio de Janeiro, feita no âmbito do Porto Maravilha, o mergulhão passou a incorporar o Túnel Prefeito Marcello Alencar, inaugurado em 2016 e que liga a Avenida Rodrigues Alves ao Aterro do Flamengo.
No dia 29 de maio de 2016, a Praça XV, a Praça Marechal Âncora e o Largo da Misericórdia foram reinauguradas pelo então prefeito Eduardo Paes após intervenções no âmbito do Porto Maravilha. Tanto as praças quanto o largo passaram a incorporar a Orla Conde, um passeio público que margeia a Baía de Guanabara. Em 6 de fevereiro de 2017, foi inaugurada estação Praça XV do VLT Carioca.
Atualmente, os visitantes podem apreciar gratuitamente essa peça arquitetônica única ao explorar a Praça XV, que é facilmente acessível a partir de diferentes pontos da cidade. Para chegar ao Chafariz do Mestre Valentim, pode-se utilizar meios de transporte público, como ônibus e metrô, que possuem estações próximas à praça, e o VLT, que possui uma estação final na própria Praça XV.
Além disso, aproveite para conhecer outros pontos turísticos da região, proporcionando uma variedade de opções para os visitantes que desejam explorar esse importante marco histórico no coração do Rio de Janeiro. Acesse nossa matéria "Roteiro de um dia à pé pelo Centro Histórico do Rio de Janeiro" e veja algumas dicas.