Mapas invisíveis [coletiva]
rioecultura : EXPO Mapas invisíveis [coletiva] : CAIXA Cultural Rio <br>[Unidade Almirante Barroso]
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Abertura: 22 de novembro de 2010
Encerramento: 5 de janeiro de 2011

Com curadoria de Daniela Name, a exposição reúne obras inéditas de 12 grandes nomes da arte contemporânea brasileira sobre áreas distintas do Rio.

Alexandre Vogler, Angelo Venosa, Anna Bella Geiger, Daniel Senise, Daisy Xavier, Luiz Alphonsus, Luiza Baldan, Opavivará, Paulo Vivacqua, Rosângela Rennó, Suzana Queiroga e Thiago Rocha Pitta se debruçaram sobre bairros, ruas e regiões marcadas por forte transformação urbana ou que se caracterizam como uma espécie de fronteira entre grupos muito distintos.

A proposta da curadoria é que cada um deles identificasse mapas invisíveis nesses lugares. Esses mapas podiam ter origens diversas: a geografia, a história, os grupos sociais, a experiência de uma determinada família ou morador, ou o confronto do próprio artista com a região.

Os Mapas Invisíveis:
Alexandre Vogler – Realengo
Angelo Venosa – Floresta da Tijuca
Bella Geiger – Região Portuária
Daniel Senise – Botafogo / Cemitério S. João Batista
Daisy Xavier – Copacabana
Alphonsus – Aterro do Flamengo
Baldan – Barra da Tijuca/ Península
Opavivará – Madureira
Vivacqua – São Cristóvão
Rosângela Rennó – Saara
Suzana Queiroga – Maré
Thiago Rocha Pitta – Avenida Rio Branco



UM POUCO MAIS SOBRE CADA TRABALHO

Alexandre Vogler se debruçou sobre Realengo. O artista criou uma série de aquarelas e um projeto de escultura, que se referem à memória militar deste importante bairro da Zona Oeste carioca. Antigo ponto de parada para as viagens de dom Pedro I, Realengo é um bairro marcado pela Escola do Exército e por uma fábrica de pólvora. A Praça do Canhão é o principal ponto de referência do bairro, que tem sua memória coletiva vinculada à iconografia bélica e do Exército.

Angelo Venosa explorou a Floresta da Tijuca. Exuberância inventada na terra da paisagem, a maior área verde urbana do mundo não existia até que dom Pedro II, preocupado com uma possível falta d´água na cidade, resolveu mandar que os escravos a plantassem. O Rio já vinha sendo desmatado pelos fazendeiros de grandes propriedades, em volta da cidade, e o imperador achou que seria uma boa ideia criar uma floresta em torno das cachoeiras da Tijuca. Venosa tira partido do plano mental, envolvido na história do lugar, para criar uma obra que vai precisar contar com a participação do espectador. O visitante irá ouvir o som da floresta sem que haja nenhuma imagem para se apoiar. As únicas árvores possíveis são aquelas da imaginação de cada um.

Anna Bella Geiger ficou com a Região Portuária, um dos berços do Rio como cidade. Porta de entrada de todos os estrangeiros, encontro do Rio com o diverso e com o outro, o Porto reunia elementos que se casavam perfeitamente com a obra da artista, pois sempre teve nos mapas e na geografia duas de suas inquietudes. Local: Zona Portuária com águas do mar une uma imensa gravura de cinco metros, desenrolada a partir de uma bobina de papel, e um vídeo, que será encaixado na própria extensão da imagem gráfica. Anna Bella partiu do texto bíblico, em hebraico, que ainda não sintetiza a palavra “oceano” e usa “águas do mar” para definir águas salgadas. Mesclando imagens de origens diversas, ela sobrepõe visões reais e inventadas de regiões de baía em várias partes do mundo – como a que mostra a de San Francisco sendo invadida por discos voadores – para falar do porto como começo e recomeço: como criação.

Daniel Senise fez seu mapa invisível a partir de Botafogo e escolheu um lugar específico; o Cemitério São João Batista, para realizar seu trabalho. Durante um período, ele recolheu as folhas que caíam das árvores da área interna do cemitério e vai realizar com elas um site specific na Galeria 1 da Caixa Cultural. Bairro dos comerciantes endinheirados, no fim do século XIX e início do século XX, Botafogo foi ficando cada vez mais degradado depois das reformas, que demoliram o Palácio do Mourisco e abriram o túnel para Copacabana, transformando-se em lugar de passagem. Espécie de bairro-fantasma, com inúmeros casarões vazios, Botafogo tem no cemitério um excelente espelho, justamente no momento em que parece se preparar para um ciclo de renascimento, com uma explosão imobiliária e a construção de inúmeros prédios. O trabalho de Senise, com as folhas mortas, vindas do lugar da morte, fala justamente desses ciclos de desaparições e sobrevidas.

Daisy Xavier vai mergulhar nas ondas de Copacabana, apresentando dois trabalhos para a exposição. Em uma série de fotos, vai fundir a ideia dessa imensa rede heterogênea, formada pelo bairro com as redes trançadas pelos pescadores da colônia do Posto 6. Foi ali, aliás, no lugar onde hoje está o Forte de Copacabana, que a nascente colônia de pescadores construiu uma capela para Nossa Senhora de Copacabana, padroeira do bairro. Importada da Bolívia, Nossa Senhora de Copacabana é, como nos conta Brasil Gerson em “Histórias das ruas do Rio”, a mesmíssima santa que também recebe o nome de Nossa Senhora da Candelária (um outro mapa invisível conecta estas duas regiões da cidade por intermédio da santa). Daisy Xavier vai fazer também um vídeo, gravado da cestinha de sua bicicleta, em que registrou o gigantesco paredão de prédios da Avenida Atlântica, de um ângulo completamente inusitado, num passeio do Forte de Copacabana até o LeK5M6PVme.

Luiz Alphonsus apresenta uma obra híbrida, misto de fotografia e instalação, sobre o Aterro do Flamengo. Obra que fundou a era moderna do urbanismo carioca, criando a ligação entre a Região Portuária e a Zona Sul, o Aterro nasceu sob o signo da polêmica, especialmente por afastar o mar dos prédios na Praia do Flamengo e na região da Glória e da Lapa (a Avenida Beira-Mar não tem este nome à toa, afinal). Enxergando o Aterro como uma faixa de concreto entre o mar e os cariocas, Luiz Alphonsus interrompeu a paisagem da região com uma imensa faixa branca e fez uma foto da intervenção. Na galeria, a faixa se prolonga da foto para o espaço expositivo, gerando uma estranheza no percurso dos visitantes.

Luiza Baldan ficou com a Barra da Tijuca, última fronteira urbana do Rio de Janeiro e, mais especificamente, com o conjunto de condomínios conhecido como Península. Bairro planejado pelo arquiteto modernista Lúcio Costa, a Barra nunca teve seu plano-piloto plenamente realizado, mas se expande cada dia mais para as regiões de pântano, que tomam conta da chamada Zona Oeste. Considerada uma região sui generis dentro da malha urbana carioca, com uma cultura distinta do resto da cidade, a Barra foi desmitificada por Luiza com um vídeo editado em três telas distintas, em que grava uma ilha no meio da Lagoa que banha a Península, ela mesma uma “quase ilha”, ligada ao continente apenas por um dos lados. Narrado pela artista, o vídeo foi criado a partir da experiência de uma residência de um mês em um dos apartamentos da Península, cedido pela construtora do empreendimento.

O grupo Opavivará pesquisou Madureira, na Zona Norte do Rio, que representa uma das regiões mais ricas, culturalmente, da cidade. Berço de escolas de samba tradicionais – Portela e Império Serrano –, também abrigou antigos quilombolas e preservou a dança e o ritmo do jongo. Ainda hoje, Madureira tem o maior índice de negros do Rio, com seu Mercadão misturando utilitários de todo o tipo, com uma profusão de lojas de artigos para a prática de religiões afro-brasileiras. Esta tradição do bairro é mesclada a um trânsito frenético, à violência e também a novas manifestações culturais, caso do Baile Charm que acontece ao ar livre, embaixo do viaduto. O trabalho do Opavivará consistiu em um ensaio fotográfico no Mercadão. As imagens feitas no lugar serão impressas em bolos confeitados e oferecidas ao público na inauguração da exposição e em dias específicos pré-agendados pela produção. O “bolo de foto” é uma tradição do subúrbio carioca e, ao fazer esta performance, o Opavivará compartilha, com o público, parte da rica cultura e do patrimônio afetivo de Madureira. Uma performance idêntica à da abertura da mostra será feita no Mercadão, como forma de agradecimento à receptividade dos comerciantes locais.

Paulo Vivacqua ficou com São Cristóvão, bairro que pulsa História. Foi sede dos engenhos dos jesuítas, com parte de seu território alagado por pântanos e línguas de mar; abrigou Dom João VI e sua Corte, na chegada ao Brasil, e passou por sucessivas reformas urbanas, como a construção da Linha Vermelha. No século XX, sofreu um boom de urbanização, com a transferência de dezenas de fábricas para lá, mas os antigos armazéns foram sendo abandonados à medida que as fábricas passaram a migrar para regiões mais distantes, como os bairros ou municípios vizinhos ao Rio cortados pela Avenida Brasil. Os viadutos, construídos sobre ruas e casario de grande importância histórica e arquitetônica, contribuíram para a degradação. Sucessivos aterros afastaram o bairro do mar. Vivacqua criou um trabalho sonoro, batizado de Mosaico, em que inúmeros auto-falantes vão fazer um mapa auditivo, afetivo e histórico de lugares como a Feira Nordestina de São Cristóvão e a Quinta da Boa Vista. Os sons de cada lugar serão mesclados a depoimentos dos moradores sobre São Cristóvão ontem e hoje.

Rosângela Rennó criou seu mapa a partir da região conhecida como Saara, no Centro do Rio, que reúne comerciantes árabes e judeus, em paz, e hoje confronta a tradição deste dois grupos patriarcais com a modernidade e a venda por atacado dos coreanos. A Saara sempre se caracterizou por ser um caminho de passagem – fez parte do Caminho do Ouro, uma trilha para as mulas que deixavam as riquezas de Minas Gerais na antiga Alfândega (hoje Casa França Brasil); recebeu as procissões em homenagem a São Jorge e São Gonçalo, depois da chegada a Corte. Rosângela vai realizar um trabalho em que dividirá a Avenida Senhor dos Passos em 7 regiões. Em cada uma delas, colocará 2 turíbulos com um dos 7 incensos feitos a partir de resinas essenciais, formando assim 14 pontos de incenso, correspondentes aos 14 passos da Paixão de Cristo, passagem cristã à qual o nome da rua faz alusão. Com a intervenção urbana, Rosângela volta a unir católicos, árabes, judeus e coreanos através do incenso que, em todas as culturas, tem a mesma função: fazer a ligação entre o céu e a terra; religare, princípio básico da religião. Uma mesa com os sete incensos também estará na Caixa durante o período da exposição e será feita performance semelhante à do Saara no dia da abertura.

Suzana Queiroga escolheu se confrontar com o universo do Complexo da Maré, reunião de 16 comunidades que formam o maior grupo de favelas do Rio de Janeiro. Próxima à Avenida Brasil e às margens da Baía de Guanabara, a Maré oferecia um diálogo perfeito com a obra de Suzana, que recentemente conduziu sua pintura na direção da pesquisa dos fluxos urbanos. A artista apresenta dois trabalhos: um vídeo, em que transforma as subidas e descidas das marés em espelho da pintura e de suas reflexões sobre a arte, e uma grande instalação feita em parceria com crianças, inscritas nas aulas de arte do Projeto REDES, que funciona na Maré. Estimulados por Suzana, os meninos e meninas traçaram seus próprios mapas dentro da comunidade. Estes caminhos sobrepostos, desenhados no ateliê da artista, formaram uma grande rede, que estará suspensa na Galeria 1 da Caixa.

Thiago Rocha Pitta criou um trabalho sobre a Avenida Rio Branco. Antiga Avenida Central, que inaugurou o século XX com a reforma urbana, empreendida pelo prefeito Pereira Passos, expulsando do Centro para os morros cariocas a população mais pobre. A Avenida Central está na origem das favelas e representou o auge do afrancesamento e da elitização do Centro do Rio. Por outro lado, foi um vetor de integração de toda a região, rasgando-a da Praça Mauá até a Cinelândia e se transformando em uma grande referência. Rocha Pitta vai apresentar, em aquarela, um projeto para uma grande empena para um dos prédios da Rio Branco, avenida onde fica a Caixa Cultural, sede da exposição. Esta “grande tela” urbana projeta um jardim na fachada do edifício.
Local:
CAIXA Cultural Rio
[Unidade Almirante Barroso]

Avenida Almirante Barroso, 25
Centro
(21) 2544-4080

Funcionamento:
De 3ª feira a domingo, das 10h às 21h

Ingresso:
Entrada franca

Atenção: os horários e a programação podem ser alterados pelo local sem aviso prévio. Por isso, é recomendável confirmar as informações por telefone antes de sair.