Nuno Ramos – Fruto Estranho
rioecultura : EXPO Nuno Ramos – Fruto Estranho : Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM RJ)
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Abertura: 14 de setembro de 2010 [para convidados]
15 de setembro de 2010 [para o público]
Encerramento: 7 de novembro de 2010

A mostra que apresenta obras monumentais e inéditas do artista Nuno Ramos, um dos expoentes da cena contemporânea brasileira, tem curadoria de Vanda Klabin e ocupará três mil metros quadrados, abrangendo o Espaço Monumental do segundo andar do MAM e seu mezanino, no terceiro andar.

A exposição reunirá as obras “Fruto Estranho”, “Verme” e “Monólogo para um Cachorro Morto”. Somadas, elas pesam 20 toneladas, o que exigiu a participação de um engenheiro calculista, para orientar sua colocação sobre a laje do prédio projetado por Affonso Reidy (1909-1964).

rioecultura : EXPO Nuno Ramos – Fruto Estranho
foto de Edouard Fraipont

Vanda Klabin afirma que Nuno Ramos “é um artista do fazer exaustivo, cultiva o excesso, a ambigüidade e as zonas instáveis: nada permanece inerte. Suas obras abrem-se a experiências inquietas, desordenadas, interrogativas, nas quais uma busca poética e existencial faz-se sempre presente”.

  Artista múltiplo e premiado, nascido em São Paulo em 1960, Nuno Ramos transita não só nas artes visuais como em literatura, música e cinema, materializando nos trabalhos dessa exposição todas as referências que o instigam e mobilizam.

Fruto Estranho

A obra “Fruto Estranho”, que dá nome à mostra, se constitui de dois aviões monomotores reais, embrenhados em dois troncos de árvores de grande porte, sem folhagens, tudo coberto por uma espessa massa de sabão. Nuno Ramos conta que ao visitar o MAM para ver o espaço que ocuparia, em meados do ano passado, sentiu que “precisaria de um elemento vertical, para cima”, não muito característico de seu trabalho. “Imaginei outro capítulo, uma continuidade, do trabalho ‘Mar Morto’ (apresentado ano passado na galeria Anita Schwartz, no Rio), em que havia uma catástrofe, uma colisão entre dois barcos que se atravessavam”.

“Fruto Estranho”, com dez toneladas, tem seis metros de altura. Nuno Ramos revela que empregou muito esforço na realização desse trabalho. “Foi muito árduo. Acho que são os trabalhos mais difíceis, do ponto de vista de recursos técnicos, que já realizei”, conta. “Mudei muito a posição dos aviões nas árvores, para darem uma ideia de anjo, pássaro tentando levantar vôo”, diz.

rioecultura : EXPO Nuno Ramos – Fruto Estranho
foto de Edouard Fraipont

Das asas dos aviões vai pingar um filete de soda cáustica, que cairá sobre banha contida em um contrabaixo (instrumento musical). Ao lado desses contrabaixos estarão dois vidros de laboratório, com dois metros de altura, ligados à mistura resultante da banha com soda cáustica.“É como se a árvore estivesse pingando, como se o processo de saponificação ainda estivesse em curso, e tudo estivesse virando sabão”, explica Nuno.

Integra ainda a obra um monitor de vídeo onde se vê, em câmera lenta, a cena do filme “A Fonte da Donzela” (1960), de Ingmar Bergman, em que Max Von Sidow derruba uma árvore e se açoita com seus galhos. A cena terá como trilha sonora a música “Strange Fruit” (Fruto Estranho), composta em 1936 por Abel Meeropol, a partir de um brutal linchamento de negros em Indiana, EUA, imortalizada na voz de Billie Holiday.

Verme

A obra “Verme”, que estará no mezanino do Espaço Monumental, é composta de duas imensas esferas de areia socada, com 3,4 m de altura, que, somadas, pesam cerca de oito toneladas. Nuno Ramos só havia trabalhado até agora com areia socada em peças de formato cilíndrico, por conta da fôrma de madeira que utilizava. A partir de testes com novos materiais para fôrmas, ele chegou à fibra de vidro, em que é possível fazer uma esfera, “uma forma perfeita”.

As duas esferas estarão muito próximas uma da outra, o suficiente para uma pessoa passar entre elas. A areia é queimada, proveniente do descarte de uma siderúrgica.

De dentro das esferas sairá um filme projetado na parede, em que dois atores, sentados em cadeiras colocadas a 3,5m de altura, presas em uma parede, lêem o texto “Verme”, escrito por Nuno Ramos ao mesmo tempo em que pensou a obra. Os atores falam cada palavra alternadamente, mas os substantivos e a palavra “verme” são ditos em uníssono.

“O texto de ‘Verme’ veio junto com a concepção da obra. Alguém separado de si. Que perdeu sua própria identidade. É próprio do verme dividir, estar segmentado”, explica. “Os atores dividem o texto, a idéia do verme, um bicho nojentão, meio do mal, que anuncia uma coisa por vir”, conta.

Monólogo para um Cachorro Morto

A terceira peça, também colocada no mezzanino, completa a exposição “Fruto Estranho”. O “Monólogo para um cachorro morto” foi apresentado no CCBB Brasília, em 2008, depois de ter tido uma versão anterior, no mesmo ano, na Funarte, em Belo Horizonte.

São cinco pares de lápides de mármore, colocados de frente uns para os outros, com um texto incrustado na face interna, dificultando a leitura. “É um texto enterrado como se fosse o cachorro, um réquiem”. Na última lápide há um vídeo com imagens de um cachorro morto numa rodovia em São Paulo, e o som da leitura do monólogo escrito pelo artista.

Nuno Ramos ressalta que “Monólogo para um cachorro morto” é inaugural dos trabalhos atuais, da série “Soap Opera”. “Totalmente geométrica, discreta, sem barroquismo algum, reforça a ideia do ciclo, que está ficando muito forte nas coisas que faço. Há coisas em meus trabalhos que se repetem em outras. O cachorro morre e vira sabão”, diz. “Pouco barroco, ‘Monólogo’ vai fazer uma oposição aos dois outros trabalhos”, diz.

Nuno Ramos ressalta que “as idéias vieram todas juntas”. Ele diz que sempre ficou muito impressionado com a cena da árvore no filme do Bergman”, e que sempre gostou da música “Strange Fruit”. “É sempre assim. Pego a ideia, o ciclo entre os opostos, tentando habitá-los. Anjo x verme, ascensão x queda, morte x vida, música x matéria, técnica x natureza, areia x sabão, branco x negro, tudo em uma cópula”.

Vanda Klabin, curadora da exposição, destaca no texto que estará na mostra: “Os trabalhos de Nuno Ramos não oferecem inteligibilidade imediata.  Exibem uma agitação material muito intensa em que nada é confortável. As suas operações estéticas aderem decididamente a contradições e ambiguidades. Já pela aparência desordenada, nos confrontam e propõem dilemas. Nenhum dos elementos, em sua aflitiva convivência,  parece domesticado ou apaziguado”.

Catálogo

A exposição “Nuno Ramos – Fruto Estranho” será acompanhada de um catálogo organizado por Vanda Klabin em um formato não usual: ela convidou seis especialistas nas áreas de arte, literatura, música e cinema, e pediu que eles enviassem, cada um, duas perguntas ao artista, via email. Além dela própria, enviarão questões ao artista o cineasta Arnaldo Jabor, o compositor e ensaísta Francisco Bosco, a doutora em Letras Madalena Vaz Pinto, o curador do MAM Rio, Luiz Camillo Osorio, e os críticos de arte Paulo Sergio Duarte e Ronaldo Brito.

As perguntas e as respostas estarão na publicação. Vanda Klabin teve essa ideia por conta do caráter múltiplo da obra de Nuno Ramos, que transita por todas essas manifestações artísticas. O catálogo terá programação visual de Sandra Ferreira Antunes Ramos.

Vanda Klabin e Nuno Ramos são amigos e  parceiros de longa data. Em 1998, na qualidade de diretora do Centro de Arte Hélio Oiticica, organizou a exposição do artista, que reuniu, pela primeira vez, um conjunto de 18 trabalhos do artista, de natureza e de épocas diferentes. Nuno Ramos tinha então 39 anos. Em 2004, realizou a exposição  do artista norte-americando Frank Stella e Nuno Ramos, “Afinidades e diversidades”, com oito obras de grandes dimensões  de cada um dos artistas, em um galpão industrial em SP, pelo projeto “Carlton Encontro com Arte”.

  Além da exposição “Fruto Estranho” no MAM Rio, Nuno Ramos trabalha atualmente na obra “Asa Branca” que estará na Bienal Internacional de São Paulo, que agora terá “o formato “todo curvo – antes era geométrica – para se encaixar no vão central do edifício”.

Ele lançará ainda, em agosto e setembro, os livros “O mau vidraceiro” [Ed Globo] e outro com uma retrospectiva crítica, com mais de 500 imagens [Cobogó].
Local:
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM RJ)
Av. Infante Dom Henrique, 85
Aterro do Flamengo
(21) 2240 4944

Funcionamento:
Segundas, terças e quartas: FECHADO
Quintas, sextas e sábados: das 10h às 18h
Domingos:
- das 11h às 18h (público em geral)
- das 10h às 11h (horário exclusivo para visitação de pessoas com deficiência intelectual, pessoas autistas ou com algum tipo de hipersensibilidade a estímulos visuais ou sonoros)
Feriados (exceto aos domingos): das 10h às 18h

Ingresso:
Gratuito. É possível apoiar a realização de projetos do museu por meio de sua contribuição voluntária, sugerida na bilheteria ou na compra online, antecipada.
Programa Agente MAM Rio: ao contribuir com R$ 190,00, você se torna Agente MAM Rio por um ano inteiro, com entrada gratuita e facilitada em exposições, mostras de filmes, palestras, cursos e programas socioeducativos.

Atenção: os horários e a programação podem ser alterados pelo local sem aviso prévio. Por isso, é recomendável confirmar as informações por telefone antes de sair.