Abertura: 21 de setembro de 2009
Encerramento: 1 de novembro de 2009

Uma década de videoarte francesa na coleção do Musée d´Art moderne de la Ville de Paris/ARC

A mostra reúne 21 trabalhos em vídeos, filmes de 17 artistas franceses ou radicados na França, cuja produção marcou profundamente a última década, trazendo discussões fundamentais para a arte contemporânea. “Entre-temps” integra o Ano da França no Brasil. Dentre os artistas, estão Dominique Gonzalez-Foerster, Philippe Parreno e Pierre Huyghe.



A mostra esteve esse ano em São Paulo, no Museu da Imagem e do Som e no Paço das Artes, de abril a junho. No Rio de Janeiro, ela será acrescida de trabalhos dos artistas Ariane Michel, Valérie Mréjen, Anne-Marie Schneider e Zineb Sedira. Alguns artistas que participaram da mostra em São Paulo não estarão na do Rio, como Melik Ohanian, Nicolas Moulin, Adel Abdessemed e Kader Attia.

O conjunto das obras que estarão na exposição foi recentemente adquirido pelo museu parisiense, cujo acervo conta com uma coleção expressiva de mais de trinta anos, que remonta à origem do vídeo. A exposição aglutina artistas nascidos entre os anos 1950 e 80, que influenciaram decisivamente a videoarte internacional.

“Entre-temps – Uma década de videoarte francesa na coleção do Musée d’Art moderne de la Ville de Paris/ARC” explora as possibilidades do vídeo como suporte artístico, e afirma a aproximação entre as artes visuais e o cinema. Os trabalhos dialogam com a experimentação de linguagens e outros campos do conhecimento, como a ciência, a filosofia, e exploram novas mídias e tecnologias. Os campos de investigação estão expressos em animes – desenhos-animados produzidos no Japão –, na retransmissão de um jogo de futebol ou mesmo em um documentário sobre um projeto de arquitetura na zona rural tailandesa.

A mostra abrange uma produção diversificada, que discute desde questões políticas e de território a visões subjetivas sobre temas como tempo e espaço, território, dramas públicos e pessoais.

Apesar da produção extremamente autoral de cada um dos artistas, eles têm em comum “uma forma de ambiguidade histórica: o início dos anos 1990 é marcado pela instabilidade”, observam os curadores. “Todos experimentam as referências formais dominantes que perdem o fôlego no fim dos anos 1980, e, do mesmo jeito, todos atravessam um contexto socioeconômico ambíguo e instável”. Os curadores destacam ainda que “entre uma necessidade de forte renovação – a maioria é de ‘filhos de 68’ – e um clima caracterizado pela precariedade constante, esses artistas conhecem, por meio de suas experiências, tensões similares”.

Entre os destaques de “Entre-temps. Uma década de videoarte francesa na coleção do Musée d’Art moderne de la Ville de Paris/ARC” estão três obras protagonizadas por Ann Lee, personagem integrante do projeto evolutivo intitulado “No Ghost, Just a Shell”, criado em 1999. Nesse ano, os artistas Pierre Huyghe e Philippe Parreno compraram os direitos autorais da personagem fadada a desaparecer e propuseram a vários artistas, como Melik Ohanian e Rirkrit Tiravanija, que lhe dessem uma segunda vida, elaborando uma história para ela. Huyghe e Parreno também apresentaram suas versões de narrativas para a musa animada Ann Lee. O primeiro, em “Two Minutes Out of Time”; e o segundo, no trabalho “Anywhere out of the World”.



ARTISTAS/OBRAS

Dominique Gonzalez-Foerster
“Ann Lee in Anzen Zone” (2000, videoprojeção, 3´25)
Uma das videoartistas que aceitou a proposta e deu novo impulso às aventuras de Ann Lee é a francesa – que vive parte do ano no Brasil – Dominique Gonzalez-Foerster que, em 2008, expôs seus trabalhos na Tate Modern, em Londres, na mostra “TH.2058”. Em “Ann Lee in Anzen Zone", a personagem anuncia, em japonês, uma profecia ameaçadora: “Não há para onde ir. Vocês serão todos enviados para um lugar sem volta”...

Pierre Huyghe
“Two Minutes Out of Time” (2000, videoprojeção)
O artista inventa para a personagem Ann Lee uma nova história. Os limites espaciais repousam entre natureza e cultura e dilatam o tempo. Entre ficção e realidade, constrói incessantemente uma memória coletiva de um mundo paralelo ou que está por vir.

Philippe Parreno
“Anywhere out of the World” (2000, videoprojeção, 4´)
“Credits,...” (2000, videoprojeção, 6´30)
“Zidane, un portrait du 21ème siècle” (2006, videoprojeção, 90´), trabalho realizado por Douglas Gordon e Philippe Parreno

Em “Anywhere out of the World”, a personagem Ann Lee é uma frágil figura da jovem moça, em que relata sua vida, afirmando que foi desenhada para poder integrar qualquer história. Ela fala também sobre sua situação como simples representação, uma figura que poderia ter sido descartada e esquecida, mas foi resgatada pelos artistas franceses. Segundo Parreno, Ann Lee é um conto: ela nos mostra como podemos ser autores de nossa própria vida, abandonar nosso mundo e viver dos signos, à medida que deixam de ser objeto de representação.

Na instalação “Credits”, Parreno apresenta um riff de guitarra tocado por Angus Young, integrante do AC/DC; além de imagens e conteúdo. Imagine uma paisagem recém-construida. E uma data, 1976, ano de implantação de um novo projeto urbanístico. Grupos de protesto envolvem mudas de plantas em sacos plásticos, em alusão à morte que o tal projeto trará à natureza. A mais eficiente maneira de reproduzir estas imagens é unir diferentes pontos de vista de quem as viveu com um riff de guitarra de Angus Young.

Em parceria com o escocês Douglas Gordon, fez “Zidane, un portrait du 21ème siècle”. sobre o jogador de futebol Zinedine Zidane. O filme tem a mesma duração do jogo de futebol: 90 minutos. As imagens do atleta, captadas em tempo real, mostram uma partida entre Real Madrid e Villa Real, em 2005. Filmado de maneira oposta à transmissão clássica de um jogo, utiliza 17 câmeras sincronizadas dispostas ao redor do estádio no nível dos espectadores, todas focalizadas em Zidane. O filme foi distribuído como grande produção e, alguns meses depois, lançado em DVD. Uma versão foi reservada ao mercado de arte.

Anri Sala
“Intervista” (1998, videoprojeção, 26 minutos)
Anos depois do fim do comunismo na Albânia, Anri Sala, que estava estudando arte em Paris, retorna para Tirana, para visitar seus pais. Lá, ele encontra um filme de 16mm da época do comunismo no país, com imagens de sua mãe que, para sua surpresa, até encontra Enver Hoxa, o líder comunista albanês. O artista contrata leitores labiais de uma escola de surdos para reconstruir os diálogos e adiciona ao trabalho conversações entre ele e a mãe.

Absalon (Eshel Meir)
“Solutions” (1992, vídeo, 7´50)
“Bruits” (1993, vídeo, 3´23)
“Bataille” (1992, vídeo, 49´´)
Em seus três últimos trabalhos, o artista israelense Absalon, morto em 1993, se deixa filmar testando diferentes possibilidades para ocupar volumes abstratos. Em “Solutions”, executa gestos cotidianos em uma habitação estreita. No vídeo “Bruits”, grita e expressa toda sua raiva e, em “Bataille”, efetua uma espécie de coreografia, batendo-se contra o vazio, o espaço e até em si mesmo. Sua obra questiona uma ordem social baseada no que a casa representa para as pessoas.

Benoît Broisat
Em “Bonneville” (2004, vídeo, 12´30)
Uma animação muda, em preto e branco, Broisat leva o espectador a uma viagem poética por sua cidade natal, onde passou sua infância e adolescência. O vídeo se constitui de desenhos em caneta preta trabalhados em programas de computador de animação 3D. A dimensão dos objetos é submetida à lembrança e à memória do artista.

Mrzyk & Moriceau
“Feeling” (2000-2001, vídeo, 3´30)
Os desenhos da dupla executados em tinta preta sobre papel, diretamente nas paredes ou em forma de animação, são estranhos, engraçados e refletem um certo humor negro. Herdeiros do surrealismo não-dogmático e das experimentações radicais dos quadrinhos de vanguarda, esses artistas projetam um olhar deslocado sobre o mundo real e a prática do desenho.

Julien Discrit
“Marathon Life” (2005, videoprojeção, 15´40)
Jovem sai de um túnel correndo no silêncio da noite. Durante o percurso, ele conversa consigo: fala do playmobil, da escola e de outras lembranças de sua trajetória. No caminho, o rapaz vê janelas parcialmente iluminadas, estacionamentos e corredores. A narrativa começa pelas lembranças da infância – invenção de pequenas mentiras, primeiro amor, angústias – e continua pela adolescência e vida adulta.

Ange Leccia
“La mer” (1991, videoprojeção, 60´)
Em 1991, Ange Leccia realizou uma outra obra na qual o elemento líquido é o tema e a própria matéria: La Mer, filmado a partir de uma falésia rochosa na Córsega. A linha da margem do mar, que se altera ao ritmo da ressaca, compõe sinusóide – semelhante à materialização eletrônica de uma freqü.ncia durante a leitura de uma fita magnética.

Camille Henrot
“Film spatial, exploration de l´appartement de Yona Friedman” (2007, videoprojeção, 11´42)
Visão subjetiva do apartamento da arquiteta e urbanista Yona Friedman, que poderia ser considerado o ponto de vista do cachorro dela, personagem-chave de seu mundo. Na projeção, uma tela permite ao espectador ver o percurso da câmera.

Christian Boltanski
“Entre-Temps 2” (2003, instalação, 2´12)
Vídeo interativo e fotografias do rosto de Boltanski em diferentes épocas de sua vida. Um dos temas favoritos do artista é sua própria história, que ele evoca por meio de coleções de fotos e objetos. Segundo Boltanski, a vida dos bons artistas é reduzida a contar histórias que os outros podem acreditar que são deles.

Ariane Michel
“Les yeux ronds” (2007, videoprojeção, 6´)
Em uma Paris noturna, a Torre Eiffel projeta seu clarão como um farol por cima das luzes dos carros na praça de la Concorde. Os motores se juntam, como o marulho das ondas, longínquo e monótono. Instalada nos galhos de uma árvore, uma coruja-do-mato observa, atenta, com ar de sabedoria, os movimentos à sua volta. Nos seus olhos reflete-se a praça de la Concorde em miniatura. O que este animal está fazendo num lugar urbano, invadido pelo trânsito, na hora do rush?

Valérie Mréjen
“Il a fait beau” (1999, video, 4’)
As sequências são curtas, como extratos de conversas que se captam no metrô, tipo de relatórios obrigatórios. De tanto repetir, a normalidade se torna quase assustadora. Os vídeos, as fotografias e os textos de Valérie Mréjen examinam e analisam sobretudo a linguagem: as expressões, os hábitos, os não-ditos e os mal-entendidos. Ela se inspira no cotidiano das pessoas próximas, da família. Em seus curtas-metragens, que raramente ultrapassam três minutos, os quadros fixos, os cenários depurados e a direção minimalista reforçam a sensação de vazio.

Anne-Marie Schneider
“Sans Titre (NON)” (1999-2000, videoprojeção, 13’36’’)
Em seus vídeos, a artista utiliza desenhos filmados imagem por imagem. Cada vídeo constrói uma narração feita de fragmentos reunidos, alternando sequências em preto-e-branco e a cores, animações e imagens desfocadas. “Sans Titre (NON)” – associa um ataque aéreo acompanhado de um trecho da “Flauta Mágica”, de Mozart, com um misto de cantos de Natal e luzes coloridas e piscantes. Os transeuntes na rua são seguidos e vigiados sem saber. Esses trechos contrastam com paisagens mais meditativas: o mar de um estranho azul metálico ou uma paisagem rural através de uma janela.

Zineb Sedira
“Mère, Père et Moi” (2003, instalação e videoprojeção, 20’25’’)
Através do depoimento dos próprios pais, Zineb Sedira relata a guerra de Argélia e os traumatismos ligados à imigração, à discriminação, ao racismo e à exclusão. Em “Mère, Père et Moi”, três protagonistas são apresentados distinta e simultaneamente, em três telas diferentes. A artista aparece em primeiro plano, fixo e frontal, silenciosa e passiva. Sentados de cada lado da mesma mesa, seus pais revelam sem cólera os horrores da guerra, a tortura, o estupro, o assassinato, os harkis (argelinos colaboradores dos franceses) e a vivência de sua expatriação.

Local:
Futuros - Arte e Tecnologia [Oi Futuro Flamengo]
Rua Dois de Dezembro, 63
Flamengo
(21) 3131-3060

Funcionamento:
De 3ª a domingo, das 11h às 20h

Ingresso:
Entrada franca

Atenção: os horários e a programação podem ser alterados pelo local sem aviso prévio. Por isso, é recomendável confirmar as informações por telefone antes de sair.