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Sítio arqueológico é transformado em museu em Angra dos Reis.
sábado, 27 de dezembro de 2008
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Em busca de aldeias canibais em Angra dos Reis (RJ), citadas pelo aventureiro Hans Staden em suas viagens pelo Brasil no século XVI, a arqueóloga Nanci Vieira de Oliveira, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), acabou descobrindo vestígios arqueológicos dos indígenas que habitaram a região antes da colonização portuguesa.

Esses vestígios farão parte do sítio-museu que será aberto à visitação pública no primeiro semestre de 2009.

O trabalho é resultado de uma parceria entre o Laboratório de Antropologia Biológica da Uerj, a Eletronuclear, administradora das usinas nucleares de Angra, onde o sítio está localizado, e a FAPERJ, que apoiou o projeto de Nanci, intitulado "Preservação e Conservação de Sítios Arqueológicos do Estado do Rio de Janeiro".

Se não encontrou sinais da prática de antropofagia entre os tupinambás da região sul fluminense, Nanci descobriu inúmeros artefatos, como pontas de osso, raspadores de quartzo e adornos em dentes.

O sítio-museu corresponde à área escavada do sambaqui do Velho, onde o visitante poderá conferir suas características e algumas estruturas arqueológicas. No local, a estrutura que mais chamou a atenção da equipe durante o trabalho de escavação foi uma sepultura.

Sob coordenação de Nanci, as pesquisas vêm sendo feitas em conjunto com o Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) por uma equipe multidisciplinar, que inclui arqueólogos, biólogos, historiadores e um grupo de 35 estudantes do ensino médio de escolas da região, entre eles, 12 índios da aldeia de Bracuhy, bolsistas do programa Jovens Talentos, da Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj).

" Este ano, os bolsistas fizeram entrevistas com moradores da região, o que nos permitiu definir algumas áreas onde podem existir outros sítios arqueológicos", explica Nanci Oliveira.

Os futuros visitantes poderão ver polidores e amoladores fixos, e ainda as ruínas de uma edificação do século XVIII e as estruturas defensivas de uma fortificação. Esse acervo permite que se trace um perfil dos povos que habitaram aquela região.

Num primeiro momento, o local foi ocupado por uma população de pescadores e caçadores-coletores, que, ao que tudo indica, tinham uma alimentação bem diversificada. Depois, a região foi habitada por pescadores-coletores, com alimentação predominantemente marinha.

Em seguida, novas levas de grupos humanos acamparam na área e, pelos vestígios deixados, fabricavam principalmente artefatos polidos e praticavam a pesca.

Segundo Nanci, a área abrange um sambaqui (restos orgânicos e inorgânicos, além de conchas, artefatos de pedra e cerâmica; vestígios de fogueira e outras evidências da presença do homem primitivo) e uma fortificação do século XIX.

"Instalada pelos portugueses, ela fazia parte de uma rede responsável por vigiar toda a costa do Rio de Janeiro e enviar as informações à Corte por meio de sinalizações com bandeiras", diz Nanci.

Nos relatos dos moradores da área, há referências da vida de seus antepassados e do que eles conhecem da área.

"Encontrei um senhor que me falou de pedras estranhas na praia de Piraquara. No local, descobri que as pedras eram, na verdade, polidores que os índios usavam para fazer suas ferramentas. Foi quando encontrei e mapeei os sítios", conta a professora.

O local descoberto apresenta características similares aos que já foram estudados na baía da Ribeira. Ou seja, contam com camadas arqueológicas em que predominam resquícios que remetem à prática da pesca e à coleta de moluscos.

"Os sítios arqueológicos foram georreferenciados (GPS), e como se encontram em área de propriedade da Eletronuclear terão visitação limitada, já que o projeto é uma iniciativa da própria empresa", conta a pesquisadora.

As próximas etapas do projeto serão terminar os melhoramentos nas trilhas arqueológicas, a sinalização e a confecção das réplicas dos achados.

Segundo a professora Nanci, a atuação dos jovens no projeto tem permitido uma mudança de olhar sobre o patrimônio arqueológico e histórico e ainda tem ajudado na conscientização de moradores sobre a importância da área a ser preservada, já que Angra dos Reis e Parati são ricas em sítios arqueológicos ainda não descobertos.

O funcionamento do sítio-museu ainda está em discussão, mas uma série de atividades já estão previstas, como exposições itinerantes, a continuidade do projeto de Educação Patrimonial e a elaboração de material educativo.

Fonte: O Dia [27.12.08]

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