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Museu da Imagem e do Som preserva a memória cultural
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
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Em um país acostumado a ouvir que seu povo tem memória curta, a máxima cai por terra quando se refere à memória cultural brasileira e, em especial à cultura carioca. Com o objetivo de preservar e divulgar um vasto e variado acervo, o Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro inaugurou, em setembro de 1965, o primeiro museu audiovisual do país com a aquisição, algumas delas doadas, de importantes coleções ligadas à história da cidade.

Nesses anos, a Fundação MIS, vinculada à Secretaria de Cultura, construiu um precioso acervo, que está à disposição do público em dois endereços. Na sede da Lapa estão armazenadas as fitas de áudio, discoteca, reserva técnica e partituras. Já na Praça XV, são guardadas as fotografias, os vídeos e a hemeroteca. Dentre os destaques, figuram coleções completas da Rádio Nacional; do fotógrafo Augusto Malta; do radialista Almirante; do intérprete e instrumentista do chorinho, Jacob do Bandolim, e do jornalista, compositor e pesquisador da música brasileira Sérgio Cabral.

Desde 1966, entre os projetos em funcionamento na Fundação MIS, o mais importante e atual continua sendo o Depoimentos para a Posteridade: um programa de história oral criado para preservar a memória nacional na música, literatura, cinema e artes plásticas. Além de ser o primeiro arquivo do gênero criado no país, transformou-se na marca registrada dos demais museus inaugurados no Brasil sob a inspiração dessa experiência pioneira do MIS do Rio de Janeiro.

Atualmente, o MIS conta com mais de 900 depoimentos com quatro mil horas de material gravado em áudio e vídeo de figuras notáveis, entre elas Manuel Bandeira, Graciliano Ramos, Cartola, Nelson Rodrigues, Isaac Karabitchesky e Gilberto Braga. Esses testemunhos ficam à disposição do público nas salas de consulta do museu em no máximo dois dias depois de serem coletados, para atender aos mais diversos interesses de pesquisa.

O público que mais realiza consultas é formado por universitários e estudantes de Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado, incluindo estrangeiros, professores, produtores, documentaristas e músicos, além de curiosos e pessoas da melhor idade – em geral aposentados saudosistas da Era do Rádio, que frequentam as videotecas para desfrutar e viajar nas lembranças do passado através das vozes, vídeos e fotografias de seus antigos ídolos.

Em 2008, os depoimentos mais acessados para pesquisas acadêmicas, elaboração de livros e público comum reuniram personalidades do carnaval carioca, como Joãozinho Trinta, Cartola, Laila, Dona Zica, Índio da Mangueira, Fernando Pamplona e Maria Augusta, o músico César Guerra-Peixe, a primeira bailarina negra do Theatro Municipal, Mercedes Batista, Ivon Curi, Mário Lago, Sérgio Cabral e Almirante.

- Não há regra ou personalidade que se mantenha constante no imaginário popular. Há, sim, períodos ou épocas do ano que artistas são mais solicitados, inclusive por influência de seriados de televisão e cinema, como Nara Leão, por exemplo - observou o chefe da Sala de Pesquisa na sede da Lapa, Luiz Antônio de Almeida, esclarecendo, no entanto, que personagens como João Cândido, o almirante negro que liderou a Revolta da Chibata; o jornalista e dramaturgo, Nélson Rodrigues; e a escritora Clarisse Linspector, são hors concours e volta e meia acessados para os mais variados interesses.

Apesar das novas tecnologias da informação, como a internet, que abrem um leque enorme de possibilidades de pesquisa, os usuários do projeto Depoimentos para a Posteridade - cerca de 120 em 2008 - na maioria das vezes optam pelos testemunhos originais, não editados.

- Na verdade, esses testemunhos são carregados de muita emoção e curiosidades que muitas personalidades e artistas, em geral, não abrem para o público. Os entrevistadores que formam a banca de trabalhos são escolhidos pelo mesmo depoente, o que torna a sessão um verdadeiro “Encontro de amigos” - explica Maria Thereza Fonseca, gerente de Acervo do MIS, ao lembrar do depoimento do maestro Isaac Karabtchevsky, em janeiro de 2008, extremamente emotivo, segundo ela, “quando relatou sua vida de coração aberto”. São estes momentos que levam o público a assistir ao vivo o projeto, no dia de gravação, quanto, posteriormente para detalhar o depoimento nas salas de pesquisa.

Por força da Lei de Direito Autoral, os pesquisadores que queiram usar parte de depoimentos arquivados no MIS tem que pedir autorização ao entrevistado, que normalmente libera a obra desde que não seja usada com fins comerciais e políticos.

O projeto é mais abrangente e reúne ainda o registro de personalidades estrangeiras de passagem pelo Rio, acrescentando ao perfil popular da Coleção de Depoimentos um caráter também cosmopolita e contribuindo para definir o arquivo do MIS como um mosaico da cultura brasileira formado por vozes, componentes das Bandas Centenárias e Cirandeiros do interior do Estado do Rio, representantes das religiões afro-brasileiras e tantas outras expressões da nossa arte e da nossa história.

Abrindo a programação de 2009, o MIS recebeu no dia 22 de janeiro a artista Marieta Severo no projeto Depoimentos para Posteridade. Os próximos convidados a registrar seu testemunho são os músicos Altamiro Carrilho, na próxima quarta-feira (11/2), e Wagner Tiso, em março.

Fonte> JB Online / Governo do Estado do Rio de Janeiro [09.02.09]

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