Como Habitar Abismos [Mariana Guimar�es] : rioecultura

Como Habitar Abismos [Mariana Guimar�es]

Abertura: 2 de julho de 2016

Encerramento: 4 de setembro de 2016

Em obras que se espalham por oito c�modos, a pesquisa que Mariana desenvolve h� alguns anos sobre os conceitos de habitar, sexualidade, vida cotidiana, afeto, presen�a e ambiguidades a partir da linguagem do bordado, pode ser vista em diferentes suportes, como instala��es e fotografias.

Inspirada pelo fil�sofo e poeta franc�s Gaston Bachelard, cuja obra reflete sobre as possibilidades e os modos de se chegar � �primitividade da casa�, Mariana prop�e um olhar mais atento aos seus signos: �A casa � o santu�rio da nossa intimidade, da nossa nudez, mas tamb�m o local das ambiguidades. Lugar de acolhimento, mas tamb�m onde ficam escondidos interditos, opress�o e viol�ncia.Um local sagrado, mas tratado como uma entidade menor�, diz ela. E completa: �S�o as ambiguidades que me interessam, os lados distintos que integram a exist�ncia, assim como o bordado tem seus dois lados. Procuro caminhar entre eles�.

A primeira sala abriga a instala��o Mesa Posta, em que o espectador � convidado a entrar em seu universo �ntimo. Em uma mesa de jantar, delicados forrinhos bordados servem de suporte a vulvas e p�nis em moldes de silicone em que Mariana borda detalhes. �Toda mesa de jantar familiar guarda seus segredos, sejam repress�es das escolhas sexuais ou repress�es de g�nero. � um convite para o p�blico entrar nesse universo com tudo posto � mesa e deixar tamb�m um pouco da sua intimidade l�, comenta a curadora Beatriz Lemos.

Nos c�modos posteriores, um no primeiro andar e outro subindo as escadas, est�o em cena dezenas de peneiras de pl�sticos com aplica��o de bordados de renda que carregam a discuss�o do que se separa, do que se coa, da feminilidade, seguidas de cerca de 40 bacias tamb�m bordadas. Objetos que usualmente acolhem as crian�as, a comida e a roupa, num paralelo com a bacia da m�e, a maternidade e renova��o da vida. �Tenho um interesse muito grande por dar um significado mais profundo aos objetos cotidianos que pertencem ao universo dom�stico e habitualmente s�o desprovidos de observa��o�, diz Mariana.

A seguir, uma vitrine guarda 12 bordados er�ticos. Quase um sin�nimo de delicadeza, o bordado ganha desenhos de sexo explicito. O que seria profano, o que seria sagrado? No meio da escada, uma instala��o traz escritos da artista e textos de fil�sofos e pensadores, entre eles Simone de Beauvoir, Michel Foucault e George Bataille, que discutem quest�es relativas e � vida privada e erotismo.

Subindo ao terceiro andar, Mariana se apropria dos desenhos da filha, Rosa, de tr�s anos - que disse � m�e �que tamb�m � artista e faz arte �tempor�nea��- , e os borda em tecidos, num trabalho a quatro m�os. Branco sobre Branco � a obra seguinte: em 12 bordados feitos em papel artesanal o avesso e direito se confundem. �Verdade e mentira, yan e ying, dor e prazer s�o a mesma coisa�, diz ela. Em Slides, que encerra a exposi��o, fotografias mostram grandes obras da representa��o feminina na historia da arte, como A Maja Nue, de Francisco Goya, e La Primavera, de Botticelli, mas as mulheres retratadas ganham cicatrizes bordadas em seus corpos idealizados.

�O fato de Mariana ser tamb�m educadora e pesquisadora, com um grande interesse pela hist�ria da mulher, � muito importante para o seu trabalho como artista. Existe um discurso fundamentado em suas obras. E a escolha do castelinho � muito fortuita, o fato de ter sido um espa�o privado e ainda manter uma divis�o de c�modos faz com que a experi�ncia do p�blico seja como entrar na casa da artista ou em uma casa que mant�m seus segredos�, diz Beatriz Lemos.

�O trabalho dela se faz urgente em tempos obscuros de retrocesso da linguagem libert�ria relacionada � sexualidade dos corpos. Seu processo � intimo e compulsivo, assim como nossas pung�ncias mais agudas. Uma obra pol�tica que convida para a a��o disfar�ada de contempla��o�, finaliza e curadora.

Local:
Centro Cultural Municipal Oduvaldo Vianna Filho
[Castelinho do Flamengo]
Praia do Flamengo, 158
Flamengo
(21) 2205-0655

Funcionamento:
De 3� feira a domingo, das 10h �s 18h

Ingresso:
Entrada franca

Atenção: os horários e a programação podem ser alterados pelo local sem aviso prévio. Por isso, é recomendável confirmar as informações por telefone antes de sair.