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Abertura: 6 de junho de 2011 |
Encerramento: 17 de julho de 2011 |
Produzida especialmente para a Pinacoteca do Estado de São Paulo a exposição Estúdio de Arte Irmãos Vargas - A fotografia de Arequipa, Peru 1912/1930, reúne cerca de 70 imagens de Carlos e Miguel Vargas, conhecidos como Irmãos Vargas e considerados expoentes da fotografia latino-americana, chega à FotoRio 2011, no Centro Cultural dos Correios e poderá ser vista entre 07 de junho até 17 de julho.
Com curadoria de Diógenes Moura, escritor e curador de fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo, a mostra apresenta uma série de retratos e cenas da vida cotidiana de uma época de ouro da fotografia peruana. Com destaque para uma série de fotografias de atores, dançarinos e artistas da época, onde o estilo teatral e requintando é facilmente notado. É um recorte significativo na criação desses dois extraordinários artistas que souberam proteger, no tempo de cada uma das suas imagens, o que a fotografia tem de mais espetacular: ir do ontem ao muito além.
Os irmãos Carlos e Miguel Vargas Zaconet nos trazem à luz um tempo em que aquele estúdio, localizado no Portal de San Agostín, produziu retratos inesquecíveis (Os Retratos) e outras cenas da vida cotidiana de um povo arequipenho (Os Noturnos) imbuídos de signos e de códigos que “esse mesmo tempo de agora” jamais será capaz de esquecer. Basta ver cada uma dessas fotografias. Foi uma época de ouro, entre o início da década de 1910 e o final dos anos 20.
Nelas estão todos os signos daquele tempo: o vestuário, os gestos, as poses, o olhar, o desejo que aquelas damas jamais poderiam revelar. Porque aquele também foi um tempo de silêncios. Os Irmãos Vargas sabiam disso. Aprenderam as técnicas dos retratos românticos vitorianos com Max. T. Vargas. As limitações técnicas do período contribuíam para poses mais estáticas, com iluminação natural, o mínimo de sombras, panos de fundo e cenografia cuidadosamente elaborados. Mas, muito sutilmente, os Vargas queriam ir adiante.
Mesmo vivendo numa cidade pequena como Arequipa, os dois fotógrafos vasculhavam os anseios do mundo lá fora com a leitura e a pesquisa em revistas especializadas que recebiam da Europa e dos Estados Unidos. E cada vez que iluminavam um personagem dentro do estúdio o resultado daquele retrato seria um avanço na estética e no drama para assinalar a marca registrada da criação em conjunto.
No fim do século XIX e no início do século XX, cidades como Lima, Cusco e Arequipa, todas no Peru, concentraram um grande número de estúdios fotográficos e foram responsáveis pelo desenvolvimento artístico dessas regiões. Esse período é considerado uma das mais importantes heranças fotográficas da América Latina e o trabalho dos irmãos Vargas está diretamente relacionado a esta época.
Descendentes de uma família modesta, os irmãos Vargas nasceram em Arequipa. Carlos, em 1885 e Miguel, em 1887. Estudaram no Colégio Salesiano e conceberam a sua primeira câmera fotográfica, uma invenção que chamou a atenção de Max. T. Vargas, dono de um importante estúdio em Arequipa, que, em 1900, os contratou. Como assistentes, aprenderam os processos de revelação, e como retocar com lápis cada fotografia.
Em 1912, Carlos e Miguel abriram seu próprio estúdio. Oito anos depois, Arequipa atingiu uma prosperidade sem precedentes graças a uma economia dinâmica e a uma geração de artistas que fez da cidade um oásis de cultura. Neste ambiente, os Irmãos Vargas organizaram 16 exposições para apresentar suas obras e seu estúdio tornou-se um centro de difusão cultural por onde passavam poetas, escritores, atores e artistas para encontros, debates, recitais e exposições.
Em 1929, a grande depressão atingiu o Estúdio de Arte Irmãos Vargas trazendo uma nova clientela, com pouco dinheiro. Com ela também chegaram as novas câmeras de formatos menores, e os negativos de acetato substituíram os negativos de vidro. Aos poucos, foram desaparecendo as cenografias e o requinte. Ainda moderno, porém mais popular e mais comercial, o Estúdio manteve seu prestígio. Fechou suas portas em 1958, depois de cerca de meio século imortalizando a vida social e cultural dos habitantes de Arequipa.
Segundo Diógenes Moura, curador da mostra, “numa época em que a publicidade, a moda e o fotojornalismo estavam no início, os retratos eram o ponto alto dos estúdios em Arequipa, Lima e Cusco, e os Irmãos Vargas tornaram-se referência porque “revelavam a alma” de cada um dos seus personagens. A alta burguesia poderia ter diante de si o que de melhor poderia refletir a sua própria persona. Mas é no olhar que os retratos produzidos pelos Vargas nos causam mais emoção. Claro que há uma elegância que paira em todo o ambiente. Mas esse fato diz respeito a uma época, digamos, onde o “excesso de informações” do mundo contemporâneo ainda não havia nos violado o corpo, a mente, a alma – num mundo onde sabemos tudo e não sabemos nada. Os retratos dos Irmãos Vargas são um revelador dessa fronteira. Deixam claro que o olhar do outro surge do seu além. Diante deles somos capazes de refletir: quem dispara primeiro, a câmera ou o olhar? Até quando precisaremos da imagem do outro para “entender” a nossa própria imagem? O que um retrato guarda e o que ele leva embora: os rastros de uma existência? Os ruídos dos tempos? De que forma um retrato poderá mudar um pensamento?”.
Os Retratos
Os estúdios peruanos no final do século XIX tinham como referência os modelos europeus. Os Irmãos Vargas realizaram uma série de processos técnicos em seus retratos, especialmente em fotos viradas, bromóleos e fotóleos. É possível que uma das primeiras fotografias que levou o retrato para outra linha de experiência seja Retrato de Mulher (c.1910), uma imagem cuja autoria não se sabe se foi de Max T. Vargas ou de seus assistentes, os Irmãos Vargas, na época com pouco mais de 20 anos. No retrato com forte característica da estética vitoriana, onde se fundem o formalismo clássico e uma atitude romântica, a parte inferior do negativo de vidro foi intencionalmente “borrada”, trazendo para o primeiro plano o olhar seguro da mulher e a postura elevada do seu busto. Com isso, a personagem se impõe, passa a “existir”, a sentir a expansão do seu corpo, a encarar a câmera, uma atitude pouco usual nas mulheres da época. Na fotomontagem feita por José Miguel de La Cuba, Belezas de Arequipa, a partir de imagens feitas por Max T. Vargas, também no início do século XX, se pode perceber a evolução estilística do retrato que vai ficando cada vez mais sofisticado e dramático, com fortes contrastes entre os claro-escuros e contraluzes. Não se tratava apenas da realização de um “simples retrato”, mas, sobretudo, da idealização da mulher a partir da fotografia.
Os Noturnos
Depois de já dominarem as técnicas do retrato, os Irmãos Vargas seguem com suas experiências e experimentos e produzem a série Noturno. Na época, a expansão da luz elétrica ameaçava “clarear” Arequipa, os Vargas, amantes de toda a poesia noturna, saíram com seus pesados equipamentos em busca dos recantos mais expressivos da cidade. Tendo em sua obra a forte presença do Impressionismo e do Pictorialismo, com suas evocações nostálgicas e misteriosas, criaram um mundo operístico que, muitas vezes, também se aproximava do cinema mudo. Para a finalização de cada imagem era necessária uma elaboração precisa que contava, além da luz da lua, com pequenas e grandes fogueiras, postes de luz e cerca de uma hora de exposição. Os primeiros Noturnos feitos pelos Vargas foram exibidos em Arequipa, em 1915. Antes, em 1900, Max T. Vargas utilizou a mesma técnica para fazer uma vista do Lago Titicaca. A imagem, transformada em cartão postal, correu o mundo. |
Local:
Centro Cultural Correios
Rua Visconde de Itaboraí, 20
Centro
(21) 2253-1580
Funcionamento:
De 3ª feira a domingo, das 12h às 19h
Ingresso:
Entrada franca
Atenção: os horários
e a programação podem ser alterados pelo
local sem aviso prévio. Por isso, é recomendável
confirmar as informações por telefone antes
de sair. |
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