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Abertura: 13 de setembro de 2010 [para convidados] 14 de setembro de 2010 [para o público] |
Encerramento: 17 de outubro de 2010 |
Pela primeira vez são reunidas todas as videoperformances da artista paulistana Lenora de Barros.
A mostra tem caráter retrospectivo, abrangendo um arco temporal de mais de 25 anos, com trabalhos feitos desde 1984. “Há algum tempo tenho vontade de reunir essas obras. O formato retrospectivo da mostra ´Revídeo´ só é possível e se adequa a uma instituição. Estou feliz com a possibilidade de mostrá-los no seu conjunto, a convite do Alberto Saraiva, curador geral do projeto, através da Oi Futuro do Rio de Janeiro”, conta Lenora de Barros, que desde 2006, quando apresentou a exposição “Não quero nem ver”, no Paço Imperial, não faz uma exposição individual no Rio de Janeiro.
O conjunto de trabalhos reunidos em “Revídeo”, que tem patrocínio da Oi e da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, aponta para pontos de interesse da artista ao longo dos anos. O humor é uma característica quase constante em sua produção. “Me interessa aquilo que surpreende pelo inusitado. Situações inusitadas e certo ‘humor patético’, ironia, paradoxos ou situações paradoxais”, conta Lenora de Barros. Os trabalhos sonoros, que tomam como ponto de partida a palavra escrita ou falada, também perpassam a produção da artista. Em 1994 ela fez sua primeira instalação sonora na exposição “Arte Cidade”, e desde então vem aprofundando e explorando essa dimensão da linguagem.
O termo revídeo remete à ideia de rever, ver novamente. O prefixo “re” implica “retrospecto", “retrovisão”, repetição, “redizer” algo. Indica uma ação retroativa, remete ainda à intensificação da ação, reforço de uma ação (ver/rever). Tem também um pouco do sentido de “reinterar” algo, fazer de novo, e assim, também de algum modo renovar. Nesse sentido, a exposição “Revídeo”, além de reapresentar trabalhos antigos, reforçando interesses e questões recorrentes ao longo do tempo, também aponta para novos caminhos na produção da artista.
Na entrada da exposição está a instalação “Calaboca e Silêncio” (2006). Esse é o único trabalho da exposição com fotografias. Já em meados dos anos 1970, os primeiros trabalhos de Lenora de Barros são performances fotográficas, como “Homenagem a George Segal” (1979), que em 1984 ganha a versão em videoperformance, presente na exposição. Em “Calaboca e Silêncio” reúne pela primeira vez, em um único trabalho, fotografia e vídeo. Em uma parede, um conjunto de oito fotografias, ampliadas em grande formato, está ao lado de um vídeo, exibido em uma pequena tela. Esse é um caminho que vem interessando à artista e no qual ela pretende trabalhar em novas experiências.
“O uso da sequência narrativa através da imagem sempre me interessou como estrutura, como ‘formato’. Pensava na idéia do frame by frame, fragmentos, ‘de-composição’ de uma ação, na tentativa de criar movimento ao colocar imagens fotográficas em sequência. O que mudou é que hoje tenho mais domínio do processo como um todo, participo da concepção à edição, e, ao mesmo tempo, penso que consigo reunir de maneira mais clara os vários aspectos de meu trabalho através da linguagem do vídeo: a performance poética, o aspecto sonoro. Não sou videomaker, e o vídeo me interessa como ‘linguagem suporte’, no seu aspecto ‘documental’, como um meio”, aponta Lenora de Barros.
“Não quero nem ver” (2005) é uma série iniciada no final de 2004, que se constituiu – em uma primeira etapa mostrada em junho de 2005 no Paço das Artes (SP) – de cinco foto-performances e do vídeo “Há mulheres”. No mesmo ano, o trabalho foi para a Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, com mais três vídeos, que ao lado de “Há mulheres” formaram uma grande videoinstalação. “Nos vídeos, atuo como personagem, o que é uma das marcas de meu trabalho. Como imagem, as performances carregam, metaforicamente, uma atitude combativa, de afronta, e, ao mesmo tempo, a opção de recolhimento à subjetividade feminina. Aqui, as imagens foram ´tecidas´ a partir de uma atividade feminina, que é o tricô, com suas linhas e agulhas. No entanto, o resultado remete a outros significados que transcendem aos gorros que nossas tias tricotaram um dia...", observa a artista.
Também fazem parte da exposição “Escrever por dentro” (2005) – uma performance poética oralizada pela artista, realizada em parceria com o músico e compositor Hilton Raw a partir de uma lista de palavras que têm a palavra VER (“dentro de si”), em “posições” diferentes dentro da palavra, como prefixos/infixos/sufixos – e as vídeoperformances “Só por estar” (2007); “No país da língua grande, dai carne a quem quer carne” (2006); e “s/ comentário” (2005).
Os vídeos “Tempinhos” (2008, mostra “Temporália”, na Galeria Millan, São Paulo), e “Temporal” (inédito, 2010), são os únicos da exposição onde não vemos a artista. Aqui, ela manipula com uma pinça minúsculos ponteiros de relógio, gerando tempos, “horas absurdas, non-senses, im-possíveis momentos”. “Temporal” faz parte da série “Lugar de Sempre”, trabalho que Lenora de Barros apresenta, em parte, na edição deste ano da exposição Paralela – realizada em São Paulo no mesmo período da Bienal – e são, entre outras peças, novos vídeos que partem dessa mesma reflexão, mas agora em uma vertente oposta, que aponta para o campo semântico do “excesso, do acúmulo, da saturação do tempo”.
LIVRO
Completa o projeto um livro dentro da Coleção Oi Futuro de Arte e Tecnologia, que deve ser lançado após a exposição. Essa será a primeira publicação dedicada à obra da artista, reunindo imagens de grande parte de sua produção, e textos críticos inéditos, realizados especialmente para a ocasião.
SOBRE A ARTISTA
Lenora de Barros nasceu em São Paulo, em 1953. Formada em Linguística pela Universidade de São Paulo (USP), é poeta e artista visual, e seu trabalho se desenvolve a partir de diversas linguagens como o vídeo, a performance poética, a fotografia e a instalação. Sua obra faz parte de coleções públicas e particulares no Brasil e no exterior, como Museu d’Art Contemporani de Barcelona, Daros-Latinamerica, em Zurique, e Museu de Arte Moderna de São Paulo. Participou como artista-curadora da RADIOVISUAL na 7ª Bienal do Mercosul – Grito e Escuta, em Porto Alegre, em 2009.
Entre as mostras que participou destaca-se ISSOÉOSSODISSO, Oi Futuro Ipanema, Rio de Janeiro-RJ, 2010, SÓ POR ES-TAR, Galeria Millan, São Paulo, SP, Brasil, 2009, FOR YOU, The Daros Latinamerica Tapes and Video Installations, Zürich, Switzerland, 2009, MAM 60, sob a curadoria de Annateresa Fabris e Luiz Camillo Osório, OCA, Parque Ibirapuera, São Paulo-SP 2008; “Temporália” (individual), Galeria Millan, São Paulo-SP, 2008, HETERONÍMIA–BRASIL, Museo de América, sob a curadoria de Adolfo Montejo Navas, Madri, Espanha, 2008. RETALHAÇÃO, no Centro Universitário Maria Antonia, São Paulo-SP, 2007, ARTE, DESHONRA Y VIOLENCIA en el contexto Iberoamericano, sob a curadoria de Patricia Bentancur e Luis Camnitzer, Cubo del Centro Cultural de España, Montevidéu, Uruguay, 2007, DESIDENTIDAD, no Institut Valencià d’Art Moderne-IVAM, Valencia, Espanha, 2006.
“A trajetória de Lenora tem início em meados da década de 1970. Suas experimentações nascem a partir da materialidade da palavra, em seu aspecto verbivocovisual, no âmbito das questões propostas pela Poesia Concreta, mas também sob forte influência de movimentos ou vertentes que marcaram a arte dos anos 1960/70, como o pop, a arte conceitual, o Fluxus. Lenora, de certa forma, está inserida na descrição feita pela curadora norte-americana Lisa Phillips, acerca de uma geração cuja obra se inspira “na orientação analítica dos artistas conceituais e na utilização de imagens culturais dos artistas pop”, surgindo da “percepção, consciente de si mesma, de nossa cultura de imagens”. Desde os primeiros trabalhos, lançou mão de um procedimento utilizado por um certo tipo de artista, que consiste em recorrer ao caráter documental da fotografia para registrar situações performáticas, encenadas para a câmera. São trabalhos que exploram, muitas vezes, situações seqüenciais.
“Com o mesmo caráter experimental que elabora a palavra, a artista realiza performances fotográficas em que seu próprio corpo é signo agente, num processo indissociável de palavra-imagem. Foto-performances que falam o corpo-boca. Palavras-texturas de cor, volume, som e forma com qualidade material corpórea. Em 1982, faz a palavra e a foto migrarem do bidimensional para o videotexto e, daí, num processo crescente e quase irreversível, ao espaço propriamente dito das instalações. Muitas dessas produções, a artista denomina como pôster-poemas, videopoemas, poemas-objeto ou instalações poéticas, dado que a palavra atomizada é freqüentemente, para ela, a matriz geradora de sentidos. Por isso, todas as tentativas de fixar a obra de Lenora de Barros jogam-nos para dobras redesenhadas de outras obras que assumem a qualidade de materiais de e para novas obras-produções.”
(extraído do texto “_ quero _ ver”, de Elaine Caramella, publicado no catálogo da mostra Não quero nem ver, no Paço das Artes, 2005) |
Local:
Futuros - Arte e Tecnologia [Oi Futuro Flamengo]
Rua Dois de Dezembro, 63
Flamengo
(21) 3131-3060
Funcionamento:
De 3ª a domingo, das 11h às 20h
Ingresso:
Entrada franca
Atenção: os horários
e a programação podem ser alterados pelo
local sem aviso prévio. Por isso, é recomendável
confirmar as informações por telefone antes
de sair. |
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