Vis�es [Jos� Tannuri] : rioecultura

Vis�es [Jos� Tannuri]

Abertura: 18 de agosto de 2009

Encerramento: 10 de outubro de 2009

Jos� Tannuri trabalha a partir de jornais. Sua obra recente inscreve-se numa genealogia que na arte brasileira contempor�nea come�a com algumas colagens produzidas por Waldemar Cordeiro na primeira metade da d�cada de sessenta. Mas foi somente com os flans de Antonio Manuel, realizados a partir de 1967; os guaches do in�cio dos anos setenta de Ana Vit�ria Mussi; as interven��es conceituais de Paulo Herkenhoff e as pesquisas gr�ficas de Luciano Figueir�do que o jornal foi explorado a fundo como elemento po�tico, tal como tamb�m tem sido feito agora por Tannuri.

Ef�meros quais as not�cias que diariamente veiculam, peri�dicos s� sobrevivem em hemerotecas e arquivos, cuja fun��o preservacionista contradiz o descarte imediato a que est�o cotidianamente condenados. Na produ��o contempor�nea, onde mundo e vida tornaram-se repert�rios alternativos � pureza formal das linguagens modernistas, o jornal ganhou uma nova forma de sobrevida quando passou a ser usado por diferentes artistas.

Os trabalhos da s�rie Vis�es, quase todos de grandes formatos, sem t�tulo, foram criados por Tannuri a partir de 2008. Eles investigam e politizam repert�rios da sexualidade masculina. Sua chave pode ser o v�deo (inscrito num suporte de jornais) que nos mostra um bal� gravado � dist�ncia, entremeado com fragmentos de imagens de rostos de prostitutas da Vila Mimosa. Entrevistadas pelo artista, suas falas s�o desprovidas de som. Superpostas �s imagens femininas surgem e desaparecem palavras alusivas a estes repert�rios tais como pernas, sonhos, sil�ncio, gozo, prazer, v�sceras, est�mago, coxas, felicidade, nervos, cora��o, l�ngua, pele e vagina, entre outras.

Como nos outros trabalhos desse conjunto, o conte�do das not�cias n�o se relaciona, aqui, ao teor das interven��es que o artista faz sobre estas p�ginas di�rias. Elas s�o totalmente recobertas com uma aguada amarela uniforme que n�o vela seus conte�dos originais. Apenas os distanciam, esmaecendo-os, de seu destino habitual, descart�vel e substitu�vel, para desloc�-las para o campo perene da inven��o po�tica e seus produtos sens�veis.

Essa estrat�gia do trabalho parece referendada, em seguida, quando o artista imprime sobre a aguada inicial a imagem serigr�fica de uma tela de alambrado, comumente usada para separar os espa�os nos quais a circula��o � livre, daqueles territ�rios de acesso restrito e controlado. Separa��o que ao anular na esfera po�tica a rela��o fundamental entre leitor e jornal, substitui-a por outra, aquela entre espectador e obra.

Veladas pela aguada e prisioneiras da cerca serigr�fica, not�cias reais passadas podem funcionar como um pano de fundo tanto visual, quanto s�cio-hist�rico do erotismo discreto desses trabalhos, presente at� mesmo no v�deo que o associa ao baixo meretr�cio do Rio de Janeiro. Suas imagens e palavras esclarecem, ali�s, as colagens de pernas femininas recortadas em papel vegetal, feitas sobre os fundos resultantes das aguadas e das impress�es do alambrado comuns a todos os trabalhos. Eles evocam � dist�ncia a famosa s�rie Mangue de Lasar Segall (1926-1929) e mais proximamente as pernas da s�rie Envolvimento de Wanda Pimentel criada na segunda metade da d�cada de sessenta.

Situado no primeiro plano dos trabalhos, o alambrado serigr�fico marca seus limites exteriores. Mas ao inv�s separar obra e mundo, como pode sugerir a grade aramada, ela os articula, atrav�s do olhar do espectador. Somente ao olhar (ou atrav�s dele) desvelam-se as diversas camadas que se superp�em dos jornais at� as suas superf�cies ou destas at� os jornais que configuram o campo po�ticocr�tico constru�do por Tannuri.

Alguns trabalhos do artista:

Local:
H. Rocha Galeria de Arte
Shopping Cassino Atl�ntico
Avenida Atl�ntica, 4240, loja 333, 3� piso
Copacabana
(21) 8582-0008

Funcionamento:
De 3� feira a s�bado, das 14h �s 19h

Ingresso:
Entrada franca

Atenção: os horários e a programação podem ser alterados pelo local sem aviso prévio. Por isso, é recomendável confirmar as informações por telefone antes de sair.